quinta-feira, 29 de abril de 2010

Amanhã não se sabe

O amanhã nos espera e ele chega tal qual um piscar de olhos, li certa vez que se deve seguir a vida equilibrando-se entre a pressa e a tranqüilidade tendo em mente que o silêncio quase sempre traz com ele a paz, dizia ainda que o cansaço é a origem de muitos medos.

Dizem que o homem teme aquilo que não compreende, em linhas gerais é uma verdade, e nesse contexto o futuro é de uma imprevisibilidade atemorizante. E nessas noites solitárias que logo se encerram fico a pensar onde estarei amanhã. Se na estrada em que piso hoje existem pedras por conta dos desvarios cometidos no passado e sobre o que estou plantando para o amanhã.

Já fiz muitas coisas na vida e sou satisfeito por isso, mas obviamente o primeiro passo para a evolução é a constante adaptação ao ambiente que me cerca, é preciso mudar.

O problema é manter os pés na realidade, haja vista que ela também é fruto da ação de terceiros que não raro são alheios a nossa vontade, o grande desafio consiste em conciliar um grupo de metas por vezes conflitantes e heterogêneas respeitando a individualidade de cada um.

Se esse tipo de ação fosse fácil os consultórios de psiquiatras e psicólogos não estariam tão abarrotados, o terceiro remédio mais vendido hoje no Brasil é um ansiolítico. Mas não vejo isso como demérito, é preciso sempre tentar, ao menos para apaziguar os demônios internos.

A chave da vitória é a tentativa, só quem erra inova, perder não é razão de vergonha, não há que se abaixar a cabeça por uma derrota, existem lições nas ruínas, “no pain, no gain”.

Mas mudar é difícil, é preciso muita grandeza de espírito. Hoje aqui amanhã não se sabe.

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite
. Clarice Lispector.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Trinity

Todos os dias vejo o meu maior adversário em frente ao espelho, “eis o grande filho da ignorância” penso eu, lembro-me então o quanto sou pequeno.

Os espíritas dizem que o orgulho nos leva a considerar-nos mais do que somos, a não suportarmos uma comparação que nos possa rebaixar, a nos considerarmos tão acima dos outros que a menor analogia nos aborreça.

Fácil saber quando o orgulho pende para a dignidade ou para arrogância, por mais subjetivo que seja é um sentimento que transcende nossa própria personalidade e refletindo em terceiros, pois diz respeito à imagem que passamos ao demais, num contexto geral nos esforçamos para conter nossos próprios medos.

O medo ocasiona um estado de vigilância que gera um temor de agir, uma forma de reagir à ameaça, decorre da ansiedade, do temor antecipado da confrontação com o artefato do medo. O medo pode ser bom ou ruim, vai depender de sua intensidade, falta absoluta de medo invariavelmente resulta em estupidez.

O fracasso certamente é o maior dos medos, é visto como derrota e não como adiamento, o fracassado não tem amigos e só não fracassa quem não tenta nada. Costumamos esquecer que o fracasso está nos olhos de quem nos vê e que cada um nos enxerga a sua própria maneira.

O medo é o pai do fracasso, só se dissipa com o agir, mas o orgulho nos impede o movimento, preferimos o culto a nossa imagem. Mas tirando o orgulho o que nos resta? Um arremedo de pessoa? Um projeto do que poderíamos ser? Um orgulho ferido faz um estrago enorme, não sabemos distinguir mágoa de vaidade, entramos em um processo de autofagia. O medo de encarar os outros é letal.


"Você nasceu apenas com dois medos: o medo de cair e o medo do barulho. Todos os seus outros medos são adquiridos. Livre-se deles".
Dr. Joseph Murphy

segunda-feira, 12 de abril de 2010

In between days

Segundas e dias chuvosos definitivamente não são muito animadores. Só consigo me lembrar de músicas do tipo “Eletrical Storm”, “3 am”, ou ainda “I like Chopin”, morar sozinho por vezes é bem desgastante, ando absorto demais e isso é arriscado.

Minha maratona em Aeroportos não tem sido muito animadora, hoje depois de uma das minhas estadias mais curtas em Aju (acompanhado de muita chuva diga-se de passagem) meu vôo não conseguiu pousar no RJ, tivemos que ir para Vitória e aguardar outro avião, cheguei em casa de virote com cinco horas de atraso.

Parece que estou esperando algo acontecer, e fico em compasso de espera. Pensamentos nebulosos, parece que cinza é a única cor existente, o chão do apartamento está frio, tenho que andar de sandálias.

A solidão, como a entendo, não significa condição miserável, mas realeza secreta, nem incomunicabilidade profunda, mas conhecimento mais ou menos obscuro de uma singularidade inatacável.

In: Genet, Jean. O ateliê de Giacometti.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Somos quem podemos ser

Quando eu era jovem, meu pai por motivos alheios a sua vontade foi intimado a demitir um funcionário dele, Marcos. Aquilo me chocou, eles trabalhavam juntos há mais de 10 anos, na época eu tinha uns 15 anos. O tempo tinha transformado uma relação profissional em uma relação pessoal, meus pais eram padrinhos da filha dele, freqüentávamos a casa dele e eles a nossa.

Quando argüi meu pai acerca da seriedade daquele ato ele me retorquiu: “Diogo, nunca trabalhe com alguém que você não consiga demitir”. Claro que essa frase tem uma abrangência muito maior, ele não estava nem um pouco feliz com aquilo tudo.

Estava então a passear pelo shopping com uma Tia minha quando o encontramos, fiquei um pouco nervoso, era como se meu pai tivesse dispensado um Tio meu.

Perguntei como ele estava no que me disse: “Estou bem, nesses anos todos nunca havia tirado férias, agora aproveito pra refletir sobre a vida” (tanto ele quanto meu pai são conhecidos workaholics), disse ainda não estar chateado e entender perfeitamente as razões de meu pai.

Minha Tia desejou que a situação se resolvesse o mais breve possível, mas ressalvou “Lembre-se que ninguém é insubstituível”, no que ele prontamente concordou.

Hoje recebi um email que em certo fragmento dizia:

Na sala de reunião de uma multinacional o diretor nervoso fala com sua
equipe de gestores.
Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um ameaça:
“ninguém é insubstituível".
A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio.
Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada.
De repente um braço se levanta e o diretor se prepara para triturar o atrevido:
- Alguma pergunta?
- Tenho sim. E Beethoven?
- Como? - o encara o gestor confuso.
- O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu Beethoven?

Oras, somos diferentes, singulares, não somos substituíveis. Esse conceito vem de uma sociedade mecânica, caixas de bancos podem ser trocados a qualquer instante, operadores de telemarketing, seguranças, etc... Mas jogar todos em uma vala comum não é algo inteligente de se fazer, o que falta em algumas situações é a oportunidade de que essa singularidade se revele.

Há um dito popular que diz que quando se retira uma mão de um balde cheio, a água toma seu lugar, metáfora que tem o mesmo significado da expressão combatida. Percebam que o liquido preenche o vazio mas o nível do balde abaixa. Não se preenche com água a alma, quando alguém se vai fica vago o seu lugar, vivemos com a lembrança, o que varia é como cada um vai lidar com ela.

Para finalizar, meu pai era empreiteiro e recebeu ordens superiores para demitir Marcos porque alguns atos deles não haviam agradado determinados poderosos. Alguns meses se passaram, as eleições se passaram, o poder não é eterno, e Marcos retornou para a firma, me pergunto se isso já não estava acertado entre eles, já que ele nunca fez força para arranjar outro emprego coisa que teria conseguido com certa facilidade, e que meu pai apenas deu a ele as férias que nunca havia tido até que o tempo necessário transcorresse.

Meu Pai enveredou pela política, foi prefeito por oito anos e fez de Marcos seu sucessor, eles já possuem mais de ¼ de século de parceria, maior parte dos casamentos atuais não duram tanto. As pessoas são insubstituíveis? Se há 26 anos meu Pai tivesse contratado outra pessoa a história teria sido a mesma? Não creio.

A vida é engraçada, meu pai nunca tinha pensado em ser prefeito, já Marcos tinha isso em seu horizonte.