terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cegos, surdos e burros?

Há pouco tempo li uma resenha muito densa sobre a “Sociedade do espetáculo” de uma socióloga cujo nome não me recordo, que logicamente tem como inspiração o livro homônimo de Guy Debord, embora o livro em si seja uma crítica aos meios de comunicação em massa, a resenha foca mais na questão da uniformização de pensamento da população em detrimento a individualidade, dando mais importância à forma que ao conteúdo, sem questionamentos críticos.

E eis que me cai em mãos um texto de Leonardo Boff, onde ele traça um paralelo entre Saramago e Affonso Romano, tecendo duras críticas a “cegueira” tão típica das sociedades atuais, questionando sobre a quantidade de informações com as quais somos bombardeados, mas que no entanto carecem de profundidade e colocam “escamas” (termo usado por ele) nos nossos olhos, e se pergunta até onde isso é bom ou ruim.

Por fim acabo de ler isso:

“... Podemos decidir viver e participar do deslumbrante banquete da vida sem reações mentais negativas, ações cruéis e egoístas ou emoções impulsivas. Ao fazermos esta escolha, nossos sentidos se aquietam e começam a encarar a vida com desapego e leveza, diminuindo em muito as oportunidades de conflito.

Ao compreendermos definitivamente o sentido ilusório daquilo que nomeamos realidade e o caráter sagrado de tudo que há, deixamos a vida fluir com uma maior consciência da abundância divina.

O Ser Desapegado nos fortalece na vida diária. Ao percebemos a irrevogável verdade de que “tudo o que move é sagrado...”, nos tornamos além de desapegados, amorosos e compassivos. Pessoas melhores de se ter perto, conviver, partilhar. Damos do que há em nós. Vamos além do pão. Ofertamos ao sagrado banquete da vida nosso conhecimento, força de trabalho, intuição, tempo, criatividade, fé. Somos dádivas perenes.

Ao nos desapegarmos ficamos também tolerantes, pois sabemos repetir o antigo gesto e as mágicas palavras: “Nada tenho, mas do que tenho lhe dou...”


Autor desconhecido (na verdade nem tentei procurar na net).

Não me sinto muito inclinado a concordar com esse último texto, me parece conformista por demais, deixamos de exercer um raciocínio crítico em troca de uma vida mais fácil. Tolerância nesse contexto me parece sinônimo de passividade.

Mais uma vez voltamos à questão das máscaras, claro que uma vida em sociedade exige uma série de comportamentos em nome da “paz social”.

Há poucos dias Miloca me questionou sobre a sensação de as vezes não sermos os protagonistas de nossas vidas e discutimos sobre individualismo e outros comportamentos e questionamentos que vão mudando com o passar do tempo.

Não sei o que nos leva a ser políticos, ou o que estamos evitando, mas a sensação de que estamos mudando com o passar do tempo já é um avanço, estagnação normalmente denota incapacidade de evoluir ou falta de vontade.

As vezes é a dor que nos ensina a viver.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Toda volta é um recomeço.

Não, não acredito piamente nisso. Recomeço do quê?

E quem quer recomeçar? Iniciar do zero novamente? Ou partir de um ponto preestabelecido?

Recomeçar quer dizer que se fracassou na primeira tentativa? E quem recomeça faz isso por vontade própria ou por falta de opção?

Acho que na melhor das hipóteses significa uma retomada de ânimo, uma vontade revigorada. Muitas vezes sou abatido pela falta de motivação, acho que é próprio do ser humano, todos precisamos de foco, não se vai ao longe sem um rumo definido.

E o que nos motiva? Cada ser humano é único em suas vontades assim sendo temos nossos próprios gatilhos, seja um desafio, um sentimento como a ira, etc...

O sentimento de recomeço só é agradável quando vem junto com a possibilidade de triunfo, caso contrário cava-se cada vez mais fundo o poço, ninguém fica satisfeito com uma perspectiva de fracasso eminente.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Wind of change.

Recém chegado de Recife/Olinda.

Muito cansado, mas ao mesmo tempo muito desestressado.

Nada como passar uns dias na casa de nossas mães, para quem mora só que nem eu é bom demais chegar em casa e ter comida pronta, não ter que se preocupar em lavar nada e as roupas miraculosamente aparecem limpas.

No RJ, em muitas ocasiões eu opto em comer na rua apenas para não ter que lavar nada depois, sem falar que é altamente desgastante chegar em casa, cansado e ter que se ocupar em preparar algo decente para comer para não cair no circulo vicioso das comidas, digamos assim, menos saudáveis.

Por vezes os motivos que me levaram a ir embora me parecem muito obscuros, como uma lembrança distante, em Aracaju as coisas são muito mais fáceis, os lugares mais acessíveis e os amigos mais abundantes.

Quando fui embora de Aracaju estava saturado da cidade e da vida que vivia aqui, não agüentava mais sair e menos ainda ficar em casa.

No entanto minhas passagens por aqui são altamente revigorantes lamento apenas não ter tempo de ver todos que gostaria, mas paradoxalmente já sinto saudades do Rio, do meu apartamento naquele calor infernal e eu sem ar-condicionado, as camas da casa de minha mãe já não me parecem tão aconchegantes, lembro com nostalgia de minha cama Box (a mais barata da loja) que me aguarda lá no Rio.

Conversando sobre isso com Fábio ele me chamou a atenção para o óbvio, eu estava perdendo minha referência de lar. Minha mãe comprou um apartamento e vendeu a casa, provavelmente quando eu voltar já terá se mudado, nem imagino como vai ser afinal morei 28 anos na mesma casa.

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” Charles Darwin.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Existem mais coisas entre o céu e a terra...

Detesto clichês. Sempre soou para mim como sabedoria de rodoviária as frases do tipo: “Tudo tem seu tempo”, “As pessoas não mudam” ou ainda “Em tudo na vida é preciso equilíbrio”.

Afinal, é irritante, depois de narrar toda uma situação, delinear contornos, traçar possibilidades e imaginar alternativas quando seu interlocutor simplesmente olha para você e diz algo como: “A desonestidade une as pessoas”.

Silêncio...

O mínimo que se espera é uma opinião, entretanto algumas pessoas parecem que preferem se sair com uma frase de efeito, um chavão repetido ao longo dos tempos e a princípio inquestionável (afinal “Tudo é relativo”), e finalizar a conversa como se tivesse dado um conselho valioso ou chegado a uma conclusão brilhante.

Realmente, é fato de que quem apenas observa uma conjuntura tem a capacidade de realizar uma dedução circunstancial lógica que, normalmente, quem está envolvido não consegue.

Mas daí a utilizar uma expressão que pode ser utilizada a uma infinidade de situações e ao mesmo tempo não se ajustar perfeitamente a nenhuma delas, me parece simples por demais.

Somos únicos pela própria natureza humana assim como os fatos que nos acontecem e a forma como reagimos a eles, somos discricionários na maior parte de nossas atitudes.

Então não acredito ser possível resumir uma universalidade de possibilidades em uma única sentença.

Em tempo, o clichê mais azucrinante que existe é aquele que está correto.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sobre meninos e lobos.

Em que ponto das nossas existências ocorrem os fatos que representam encruzilhadas nas nossas vidas? Não me refiro apenas à tomada de decisões que importem em mudança de rumos, mas também a fatos dos quais não temos controle que insurgem como fatores determinantes nas nossas biografias.

É possível lembrar-se da encruzilhada, e ao mesmo tempo rememorar a imagem que projetávamos do futuro naquele ponto, antes de seguir adiante. Os eventos por vezes pareciam tão certos, tão nítidos. As coisas ficaram melhores ou piores?

Mas o que mudou as coisas? Em que momento o lobo abocanhou o menino?

Claro que somos responsáveis por nossos atos, mas o que há por trás deles? O que nos motiva? Que interpretação histórica há neles? Que influência nossos amigos tem nas nossas decisões e de que forma reagimos às ações deles nas nossas vidas? Até que ponto o meio realmente forma nossa personalidade?

Homo homini lupus.

Quando se coloca um sapo em água fervendo ele automaticamente pula fora, mas se for colocado e aos poucos se esquenta a água ele morre cozido.

Bilu me disse que por vezes convivemos tanto com alguém, sabemos tantas coisas sobre essa pessoa, que somos incapazes de perceber coisas óbvias sobre elas, características marcantes, em suma ver o óbvio. Será que é isso mesmo?

E de repente o que parecia lógico vira uma imensa incerteza. E como agir a partir daí?

Ainda sou muito novo pra olhar para trás e me sentir arrependido pelas coisas que fiz, claro que muitas eu não repetiria e muito do que aconteceu não foi culpa exclusiva minha, mas só quem erra inova.

Quem não dá chance ao azar, também não dá para a sorte.

De volta da selva

Manaus até que não foi ruim, me disseram que dei sorte, o clima até que estava agradável (esperava uma sauna) e a prova não foi ruim como pensei que seria. Do aeroporto fui direto ao hotel no centro, que ficava ao lado do local da prova, e do hotel de volta ao aeroporto e o pouco que vi achei até simpático, a cidade estava limpa, não vi pedintes (que são comuns nos centros das cidades) só detestei a comida (mas isso é contornável, é uma questão de tempo descobrir para onde ir).

Mas mesmo assim não gostaria de morar lá, não que eu ache que isso vá acontecer, são mais de 200 por vaga, ninguém ficaria mais surpreso que eu mesmo se eu passasse.