terça-feira, 30 de março de 2010

Um pêndulo parado.

Muitas vezes em uma encruzilhada temos que tomar uma decisão. O problema é que na vida não dependemos apenas de nossos atos, sofremos reflexos de atitudes externas.

Lembro de minhas fraquezas, as mesmas durante a vida toda, sempre achei que elas se dissipariam com o passar do tempo, mas olho no espelho e vejo o mesmo rosto de 14 anos atrás e a mesma imprecisão na fronte.

Ceder? De novo? Para a felicidade geral da nação? Contrariar pessoas? E minhas vontades? Parece que estou tecendo a colcha de Penélope. Difícil quando a razão vai contra a vontade. O óbvio ululante irrita. Acho que preciso de uma luz, é um dos problemas de se morar longe de casa.

Já ouvi que somos predestinados a repetir os erros de nossos pais. Claro que não, acredito em escolhas não em destino, sempre tive como premissa que tinha como obrigação ser uma espécie de versão melhorada deles. Sou muito diferente dos dois.

Mas, na ânsia de me diferenciar, acabei não assimilando algumas das qualidades que admirava. E em momentos cruciais sinto o buraco na alma que esses predicados que naturalmente preencheriam. Faltou um equilíbrio, me sinto inacabado e agora isso me frustra. Nestas horas tenho vontade de virar um ermitão.

Estou preocupado, a insônia está voltando, parece que estou encarando um retrocesso.

Por onde anda o meu Yang? Bilu já tinha me chamado a atenção para esse fato, ainda não achei e o tempo urge.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Um exame de consciência.

Partindo de um lugar-comum que afirma que “aqui se faz, aqui se paga”.

Um conhecido padece de câncer e está prostrado em uma cama de hospital, precisando de um tipo de sangue difícil de encontrar.

Este conhecido agiu como um Judas com um grande amigo que lhe estendeu a mão em um momento difícil de sua vida. No entanto sua ganância encerrou com uma amizade de forma traumática e desastrosa e finalizou uma parceria que poderia ter gerado frutos futuros e resultou em seqüelas profundas.

E agora a vida cobrou sua conta.

Mas porque não sinto pena? Não possuo o tipo de sangue que ele necessita, mas provavelmente se tivesse não doaria.

Queria saber se refletindo sobre sua vida e constatando a inutilidade do dinheiro que ganhou à custa do suor alheio se está arrependido.

Seria possível uma redenção?

Será que perdi a fé nas pessoas? Não sinto culpa por pensar assim, espero que a idade não tenha enterrado minha sensibilidade.

domingo, 28 de março de 2010

As vezes as melhores coisas vêm de onde menos se espera.

O grande uma vez me disse “Não crie expectativas, mas não fique desatento, as situações mudam”, difícil saber apenas saber como fazer.

Seria o anunciar de novos tempos alvissareiros? Em verdade o ano tem sido muito bom, reclamar seria de extremo mau gosto, mas...

Acho que é natural do ser humano querer mais, provavelmente essa permanente sensação de insatisfação é o que nos motiva, estagnação nessas horas me parece até irracional.

Não consigo tirar o trem das sete da cabeça por esses dias.

sexta-feira, 26 de março de 2010

De banzo

Pois é, acho que essa semana santa não vai ser das mais animadas, mais um encargo da vida. Reclamei a Igo isso e ele me lembrou que estou aqui por opção.

Inevitavel não repensar minha situação. Não, não vou voltar, nem eu quero como também seria uma derrota. Apenas pensando nas possibilidades.

O mal de quem sonha demais é ficar tempo demais preso ao mundo do “e se...” enquanto isso o tempo vai passando... Nessas horas me prendo a idéia de que só inova quem erra.

Certa vez li que se não se deve deixar de sonhar, pois ninguém vai sonhar por você.

Sou prático demais para ser taxado de sonhador, além disso nostalgia não combina comigo.

Acho que a idade tem me deixado sério demais.


"Ria de si mesmo,
mas nunca duvide de si próprio.
Seja ousado!
Quando embarcar para lugares estranhos,
não deixe nenhuma parte de si em terra firme em segurança.
Atreva-se a entrar em territórios inexplorados."

Alan Alda

terça-feira, 16 de março de 2010

O inferno são os outros

Se as pessoas não mudam em sua essência, as conjunturas por sua vez podem se modificar completamente.

E até onde essa modificação afeta o nosso comportamento? Darwin já dizia que os sobreviventes não são os mais fortes e sim os que melhores se adaptam ao ambiente. Humanos são mestres na arte da adequação.

Interessante ver como algumas pessoas se violentam e entram em um processo de auto degradaçao psicológico. Não adianta ir contra a própria natureza.

Etimologicamente falando, submissão remete a idéia de humilhação voluntária. Seriam os “sapos” que temos que engolir no nosso cotidiano. O submisso é um indivíduo incompleto, impossível se realizar na vida nesta situação, ignora suas vontades em nome da satisfação de terceiros, passa a vida se sentindo um derrotado, inferior aos outros.

Até onde isso vale a pena?

sexta-feira, 12 de março de 2010

É melhor viver como um monstro ou morrer como um homem bom?

A premissa acima é do filme “A ilha do medo”.

Por vezes a realidade é tão dura que construir uma ilusão é a única forma de aplacar nossos demônios internos. Tenho retornado tanto ao tema da teatralidade do cotidiano social, que ao mesmo tempo em que começo a me tornar repetitivo percebo quão tênue é a linha que separa o real do virtual.

Talvez a loucura e a senilidade sejam fugas eficazes, e começo a sentir certa inveja daqueles que são alheios ao caos urbano, uma espécie de retorno a inocência ou ainda uma imunidade a apatia que nos cerca. Muitos certamente preferem esquecer um passado cheio de desgostos, talvez seja melhor mesmo.

Acho que a vida pode nos endurecer, mas tenho receio de que o amadurecimento me torne uma pessoa amarga, já fui idealista, hoje sou um pessimista e sinto que desde que comecei a morar sozinho me tornei um pouco misantropo e mais ensimesmado.

A pessoa amarga é um resmungão por natureza, difícil de agradar, a angústia o transmutou em um ser desesperançoso. Intuo que esse tipo de pessoa caduca mais rapidamente, como se fosse algum descanso para a alma.

Quiçá por isso me sinta atraído por pessoas espontâneas, com muita vitalidade, nada melhor que a transparência. Sejam grossas, sejam meigas, mas que sejam elas mesmas, isso é o que importa. Só tem algo a esconder quem valoriza o segredo, afinal quem tem medo da verdade? O que machuca mais? A verdade propriamente dita ou ter que escondê-la?

Patrícias de Santo Antônio de Aracaju – Tiago Carvalho

Provincianas... De uma boçalidade morna.
Naturalmente sensíveis ao interesse.
Caças níqueis!
Pobres moças aracajuanas....

Poema de um amigo meu.

Sempre achei engraçado demais esse culto a imagem tão típica de cidades pequenas, tão suscetíveis as opiniões alheias. Um dia desses rolava de rir ao ler um site sobre “noticias” de Aracaju, se é que saber da vida dos outros pode ser considerado notícia, o pseudojornalista mal sabia escrever, além dos erros crassos de português fazia uma mistura insana e desarticulada de com termos em inglês. E ele é um dentre muitos.

Mas pior que isso é a quantidade de pessoas que valorizam esse tipo de exposição, que sentem um prazer quase que carnal ao ver seu nome em uma nota de jornal, se a nota vier acompanhada de uma foto então se corre o sério risco de se atingir o êxtase.

Sinto pena mesmo, acho de uma pobreza de espírito inacreditável, fico pensando de que forma elas tentam preencher aquelas cabeças ocas, de quanta futilidade e massagem no ego algumas pessoas precisam pra viver, se isto as faz felizes, paciência a mim resta apenas observar e me deliciar.

Fico lembrando de quantas vezes fiquei disperso sentado em um banco de ônibus a ponto de passar da parada, eventualmente com um ar preocupado, ocasionalmente com um sorriso bobo no rosto, certamente algum passageiro já deve ter tido a certeza de estar viajando ao lado de algum tipo de idiota.

Mas quem se importa?

"Aquele que gosta de ser adulado é digno do adulador" Shakespeare.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Um dia a gente chega,

no outro vai embora. (Renato Teixeira).

O quanto pode extrair de um olhar? O que se pode deduzir de um par de olhos perdidos? O mesmo olhar em indivíduos diferentes possui o mesmo significado?

Lembro-me com clareza, mas sem saudosismo, do tempo em que a insônia me fazia enfrentar o nascer do sol. Ao raiar das primeiras horas da manhã ia para a beira da praia e deixava a água fria do mar molhar meus pés até a altura do calcanhar e me deixava divagar por longos minutos apenas apreciando a linha do horizonte.

Apreciar não é o termo mais apropriado, na verdade se em um destes momentos ocorresse um eclipse bem na minha frente possivelmente me passaria despercebido. A cabeça tão cheia, tão focada em varias coisas simultaneamente, pensamentos profundos, porém efêmeros, indo e vindo em uma velocidade tal que seria mais adequado dizer que não pensava em nada.

Se começasse a cair uma leve garoa então, entrava em nirvana...

Eis que essa ultima semana me peguei observando o olhar de meu progenitor. Absolutamente perdido, fixo em um quadro na parede, enquanto eu me perguntava se faria alguma diferença se eu retirasse o quadro. Será que ele continuaria a encarar a parede nua? Certamente que sim, já seria deverás recompensador se depois ele lembrasse que estive ali.

Questionava-me sobre o que se passava na cabeça dele, enquanto lembrava-me de mim mesmo. Perguntar seria uma absoluta perda de tempo, ainda que eu conseguisse me fazer entender (o que seria absolutamente improvável) dificilmente ele conseguiria se exprimir em palavras.

Seria possível não estar pensando em absolutamente nada? Teria se perdido em uma linha de raciocínio e sua mente ficado presa a ela? Não tenho como saber.

Lembro que já ouvi que ainda não inventaram um meio de viver muito que não fosse envelhecendo, rapidamente me ocorre que o tempo é mesmo imune as nossas vontades.

Se a vida com uma mão pode nos entregar prazeres e sucesso com a outra nos traz conseqüências e seus ônus, se por um lado nos trás felicidade por outro nos induz ao esforço. E junto com os anos que passam, vão-se também os nossos neurônios.

Inevitável não sentir certa resignação, a mesma que sinto quando vejo um animal atropelado na beira da estrada.

O olhar era o mesmo, mas o que nos separa além dos anos? Meu tempo também vai chegar.

terça-feira, 2 de março de 2010

Os Maias erraram!!!!

E nesses dias nublados, recebendo visita, muito resfriado, sem celular e sem internet em casa.

Podia ser pior, assistindo ao “Jornal Hoje” ontem (ambíguo, eu sei), entre terremotos, tsunamis, inundações, vendavais e desmoronamentos tive a impressão que ao final do programa iriam anunciar a data provável do fim do mundo, pelo visto os Maias estavam errados e ele será em 2010 mesmo.

Enquanto caminho pelo RJ, ao chegar em casa constato empiricamente que de fato é a cidade mais imunda proporcionalmente do Brasil, minhas pernas estão imundas. Se aquelas chuvas que caíram em São Paulo tivessem ocorrido aqui a cidade teria afundado em um imenso buraco negro de esgoto.

Gel me disse que o “portinho” em Salvador está uma vergonha, tomado pelo lixo. Engraçado que quando o problema estoura quem mais reclama são os mais afetados que também são os que mais sujam. Mas quem vai educar ambientalmente a massa ignorante? É projeto de longo prazo e políticos precisam de votos agora.

Lembro-me quando fui passar o réveillon em Arraial, crianças vendiam filhotes de tucano na beira da estrada, “Tirei do ninho hoje de manhã tio!!” me disse um dos guris cheio de orgulho. Revoltante, mas um paradoxo que me lembra o dilema da sereia (vide: A novidade – Gilberto Gil). Como incutir na cabeça dele as conseqüências do que fazia agora em detrimento de uma necessidade imediata?

Enquanto isso um acéfalo essa semana me reclamava da dificuldade que teve para andar de carro em Amsterdã, haja vista que lá eles dão preferência ao transporte publico e incentivam o uso de bicicletas e outros meios de transportes limpos.

Somos todos tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais que ás vezes bate uma desesperança.

Quando todo o mundo é corcunda, o belo porte torna-se a monstruosidade.

Honoré de Balzac