sábado, 6 de novembro de 2010

Réquiem por um sonho.

Nunca é tarde para um novo recomeço? Não sei, queria ser otimista assim.

E quando paradoxalmente dois meses parecem ter se arrastado por dois anos, mas na minha cabeça parece ter sido anteontem?

E 700 dias? E 10500 dias? Ando brigando com os meus cabelos brancos...

Dizem que excesso de nostalgia muitas vezes é um reflexo da insatisfação com o presente, por outro lado a amnésia ou negligência com o passado também pode significar uma omissão quanto a responsabilidade de atos que não surtiram o efeito desejado.

E quando se age sabendo que o êxito é improvável?

Negar esse conhecimento é vital, a sociedade cultua os sucessos, somos muito duros com os nossos erros, ainda mais se são cometidos de forma consciente, assumir um fracasso já é por si só muito difícil.

Assumir que agimos de forma independente, alheios a vontades externas, mesmo sabendo que o resultado ao mesmo tempo seria previsível e negativo é para poucos.

O futuro é incerto, olho para as linhas que se desenham e tento imaginar um roteiro otimista para o que segue, mas me parece que quem sempre espera menos sempre lucra mais.

Saber o que nos potencializa e ao mesmo tempo estar ciente das nossas limitações pode ser angustiante.

Pior que um ato assumidamente equivocado é a omissão de ação!

Vejo amigos, indo do inferno ao céu e vice-versa em um piscar de olhos, essa impermanência constante, para o bem ou para o mal, é que me mantém em riste.

Nessa seara conclui que nossos amigos não são nossos reflexos, não andamos necessariamente com quem nos identificamos, andamos com quem nos faz felizes.

Ninguém quer ser amigo de um cachorro morto, discutia isso com meu pai há pouco tempo, sobre como é difícil enfiar o braço na lama para puxar um amigo, na hora em que os problemas se tornam públicos poucos querem se expor, ignorar é sempre o caminho mais fácil, as adversidades usualmente exterminam os nossos contatos, se o amigo em questão for um cabeça-dura então a própria camaradagem vira uma prova de fogo.

“Desse mal a gente não sofre, afundamos juntos, ainda que discorde de muita coisa, ainda que ele nem de longe tenha sido o amigo que eu fui pra ele, não me sentiria bem comigo mesmo abandonando ele agora, vou dizer isso a ele amanhã no almoço.” Me disse meu pai.

Eu acredito na recíproca.

Tenho muito orgulho da minha família, tanto a biológica quanto a que eu escolhi.

Prolongar o erro é o que nos consome!

domingo, 17 de outubro de 2010

Os ventos do norte não movem moinhos.

Interessante observar os parâmetros que cada indivíduo elege como fundamentais na formação do grupo social que integra.

Me pego olhando para minha própria mão e tento enxergar através dela, numa espécie de visão apreciativa que transpassasse a pele e a carne e me permitisse constatar se realmente o essencial é invisível aos olhos.

Impossível de se responder com certeza, prefiro acreditar que sim, mas vivemos em uma realidade onde é a casca que importa.

Não quero afirmar que os meus valores devam servir de paradigma para os demais, não acredito em julgamentos perfeitos, cada cabeça é um mundo, mas esse excessivo culto a forma em determinadas situações me parece completamente irracional, possivelmente porque utilizo de princípios avaliativos completamente díspares dos que hoje são mais comuns.

Quando porventura faço uma autocrítica e avalio o que foi feito de errado para que como em um exercício evolutivo, reconhecendo os meus próprios erros eu possa ascender como ser humano, eis que muitas vezes me apercebo em uma espécie de circulo vicioso e volto a cometer os mesmos deslizes de antes, ainda que sob outra aparência.

Afinal o que realmente importa? Nessas horas me bate aquela sensação de estar tecendo a teia de Penélope.

Nessas horas, tendo como combustível a insônia, a única vontade que tenho é a de pegar meu travesseiro e ir deitar na areia da praia apenas para olhar o mar e ficar entorpecido com o vento frio que sopra neste momento.

"Somente o silêncio é grande, o resto é fraqueza" - Alfred de Vigny.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

No country for old man

É medo ou a coragem que nos move? Não me lembro onde li isso.

Conversando com um amigo, cuja companhia me foi privada por conta da distancia, me dei conta que ele agora trilhava uma estrada que eu conhecia muito bem e da qual não sinto falta alguma, não guardo sequer lembranças, apenas a experiência adquirida para não tornar a passar por ela.

O olhar frio e crítico de quem enxerga de fora permite um viés sistemático da situação, mas tenho uma dificuldade crônica em tentar explicar o que me parece óbvio, no entanto isso não foi necessário.

Lembro-me do tempo em que houveram bifurcações erradas por demais no meu caminho e como já fui intransigente comigo mesmo, mas quem não consegue se lembrar do que fez na noite anterior não pode ser tão pertinaz.

E nessa sociedade onde os fracos não têm vez, um deslize, ou uma decisão demorada podem acarretar prejuízos onerosos por demais, afinal, como já dizia o poeta, não dá pra esperar por uma crise para descobrir o que é importante em nossa vida.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Crônica sobre a morte anunciada de um caixeiro viajante.

Diálogos de aeroporto...

A amiga reclama da saturação de estar a tanto tempo fora de casa, da falta que sente da família, das facilidades que sua terra natal lhe proporciona, me diz que está tateando os seus limites, que por vontade própria encerraria esse ciclo mas que está perto demais do desfecho para desistir agora.

Começou a falar tão veementemente sobre o assunto que esqueci como chegamos a ele.

“São quase quatro anos Diogo, é tempo demais”.

Fiquei sem saber o que responder, em outra circunstancias teria discorrido sobre o que seria tempo demais, da inexistência de prazos ideais, da relativização da distancia, enfim uma infinidade de coisas.

O olho dela me disse que não era a hora pra esse tipo de contra-argumentação.

Aeroportos são microcosmos.

Desde que fui morar fora e virei adepto das pontes aéreas, me dei conta que encontros casuais nos aeroportos não são frutos do mero acaso, são sempre as mesmas pessoas, é quase como morar em uma cidade pequena.

Antigos camaradas, colegas de meus pais, amigos que trabalham no setor aéreo,conhecidos de vista, estão todos lá, são as mesmas pessoas.

É como se eu resolvesse morar em Aquidabã, claro que isso é uma metáfora.

Ano passado, entre feriados, casamentos e aniversários, em um espaço de três meses estive cinco vezes em Aracaju.

Como dou preferência ao mesmo vôo, da ultima vez tive a impressão que a Aeromoça olhou para mim com um ar de “Já lhe vi em algum lugar”.

Santos Dumont, Guarulhos, Congonhas, Santa Maria, Zumbi dos Palmares, parecem salas do mesmo edifício.

Inclusive, detesto fazer hora em aeroporto, prefiro correr o risco e embarcar logo depois do check-in.

Mesmo programas triviais, como uma semana santa, um carnaval, exigem uma programação, seja pra Maceió, Recife, Salvador, etc... Estou longe do grosso dos meus amigos.

Um ano e meio fora de casa.

Quanto tempo é demais?

sábado, 25 de setembro de 2010

Choque de realidade.

Clima agradável no rio de Janeiro, nem o frio que estimula a inércia, nem o calor que torna qualquer desagradável qualquer atividade.

As eleições tornam qualquer cidade menos vistosa, a poluição visual (normalmente de extremo mau gosto, o que me faz teorizar que a grande maioria dos candidatos tem sua “equipe” de marketing comandada pelos seus respectivos cônjuges), a falta de bom senso de seus cabos eleitorais no que concerne a assepsia pública e ao incômodo que causam aos pobres eleitores e, claro, não poderíamos nos esquecer da cara-de-pau que é tão peculiar aos nossos políticos.

Vou tomar por exemplo um candidato que tem realizado uma campanha farta na região onde moro, sua campanha é composta por um vasto arsenal de peças publicitárias, santinhos, cavaletes, fotos em tamanho natural, um exército de “militantes” segurando bandeiras e faixas, bem como um dos comitês esta instalado na frente de um dos shoppings mais conhecidos da cidade, em um bairro da zona sul, um espaço amplo, extremamente bem localizado e obviamente muito caro também.

O nome deste cidadão é Rodrigo Bethlem, confesso que nunca tinha ouvido falar nele até então.

Bethlem começou a carreira no PFL, em 2000, quando foi eleito vereador. Mais tarde, ao opor-se a Cesar Maia, filiou-se ao PMDB, legenda sob a qual terminou seu mandato. Em 2001, foi para o PV. Retornou ao PMDB em 2003. Aos 38 anos é filho da atriz Maria Zilda (fonte Google).

Antes de ser vereador foi subprefeito na gestão de Cesar Maria em algumas regiões do Rio, foi secretario adjunto de governo de Sergio Cabral e por um ano e três meses foi secretário da ordem pública do município.

Tem como mote principal ter implantado o choque de ordem no RJ.

Cito isso tudo apenas para tecer duas considerações:

1 – O choque de ordem me parece estar sendo um benefício para a cidade, em um lugar onde as instituições teimam em não funcionar, a iniciativa de tentar por ordem na casa é salutar, coibindo a propaganda irregular bem como prezando pela vigilância sanitária nos estabelecimentos que vendem alimentos, ainda que os principais atingidos sejam os ambulantes, ver uma senhora idosa chorando porque tomaram seu isopor com bebidas não é das cenas mais agradáveis de se ver, bem como eles são adeptos de ações pirotécnicas sempre agem com muito estardalhaço;

2 – O choque de ordem está temporariamente suspenso durante as eleições, está todo mundo fazendo o que bem entende.

Em tempo, meus conhecimentos sobre a política carioca são muito incipientes, não tenho nada contra este cidadão, não faço a menor idéia se ele foi um bom gestor, ou de onde são provenientes os recursos de sua campanha.

Ou restaure-se a moralidade ou locupletemo-nos todos.” Stanislaw Ponte Preta.

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Kevin Lomax

Estava pensando aqui em como mudei nos últimos anos.

Já achei que mentir era algo despropositado, mas já olhei o demônio no fundo dos seus olhos e menti despudoradamente.

Depois menti para amigos, parentes, vizinhos... Acabei me acostumando.

Não me senti culpado, frustrado algumas vezes, mas nunca culpado.

Já fui comunicativo, hoje prefiro ficar calado, na pior das hipóteses não passarei por idiota, a misantropia me seduz.

Já achei que precisava justificar todos os meus atos, mesmo que a justificativa não correspondesse à realidade, apenas para ser coerente.

Já fiz coisas que não queria apenas para agradar os outros e muito poucas vezes obtive reciprocidade quando precisei, fui egoísta pelos outros, um caso raro e imbecil sem dúvida.

Já fugi de problemas, mas hoje vejo claramente que o grande problema era não encarar a realidade.

Já gostei mais das pessoas, hoje só consigo sentir a falta do meu cachorro.

Talvez isso tudo seja uma conseqüência natural da profissão, afinal como Advogado não devo ter caráter, sentimentos e sequer um coração, afinal eles são incompatíveis com a profissão.

Até meu senso crítico mudou, piorou na verdade, o tempo me deixou intransigente demais, niilista, impaciente e principalmente intolerante com a ignorância alheia.

Nem política me empolga mais.

Engraçado como me sinto tranqüilo com relação a isso tudo, na verdade poucas coisas me importam, hoje em dia minha preocupação maior é saber se meus afilhados vão se lembrar de mim da próxima vez que eu for a Aracaju.

Talvez eu apenas ande lendo Lispector demais ultimamente,

No mais, qualquer coisa a mesma coisa.

domingo, 19 de setembro de 2010

10 dias no Peru

Uma viagem peculiar, sem dúvidas.

Como fui com minha mãe e meu padrasto nossa programação se resumia basicamente a museus, sítios arqueológicos e principalmente um vasto roteiro gastronômico e culural (ampliei consideravelmente meu repertório de conhecimentos inúteis).

Volto de viagem com um tornozelo torcido e alguns kg´s a mais.

Extremamente indignado com o massacre humano e cultural promovido pelos espanhóis naquela região, sob a benção da igreja católica, exterminaram uma nação de mais de 12 milhões de pessoas bem como tentaram suprimir sua cultura, um crime imperdoável.

Passei muito tempo sozinho na viagem já que tinha meu próprio quarto e as atividades geralmente eram diurnas, não que o simples fato de estar só faça alguma diferença, já que moro sozinho no RJ, mas o fato de estar em viagem deixa minha mente fervilhando, sem falar que o pouco oxigênio de Cuzco misturado com o chá de coca me fez passar madrugadas de pura abstração (finalmente entendi porque a Fifa proibiu jogos em locais tão acima do nível do mar).

Preciso comprar uma agenda, no outro dia quando acordo tenho dificuldades em me lembrar do que tinha pensado.

Detesto agendas...

De qualquer modo resolvi levar a cabo um projeto pessoal, algo para o futuro.

Fake plastic trees

Um amigo me reclamava da chateação que causa se relacionar com uma pessoa que vende na rua uma imagem de pessoa completamente diferente da que ela realmente é no convívio diário.

Está certo mesmo, é irritante quando se quer fazer uma reclamação sobre alguém e o que falamos não se ajusta a imagem que os outros possuem sobre essa pessoa, as argumentações parecem improcedentes ou simples birra.

Recém chegado do Peru, lugar muito bonito, literalmente incrustado na pedra, culinária espetacular, vale a pena conferir.

"Minha vida não tem qualquer finalidade, sem direção, sem objetivo, não faz sentido e, no entanto, estou feliz.” Snoopy.

domingo, 29 de agosto de 2010

O vencedor

Estava me lembrando um dia desses do filme 300 de Esparta, acho que ninguém dá mais importância a conceitos tão subjetivos como a honra, na verdade acho que as gerações mais novas sequer saberiam defini-la.

A sociedade estimula a superficialidade, ninguém se preocupa mais com regras de conduta moral, personalidades altivas são cada vez mais raras, pontualmente encontro alguém que tenha compromisso com o comportamento íntegro, naturalmente descompromissado, que tenha seu próprio caráter como cartão de visitas, pessoas assim só na ficção mesmo.

Já vai longe o tempo que a vergonha levava desde um aristocrata até um simples camponês a cometer um haraquiri no Japão.

Ainda mais aqui no Brasil com a cultura da “farinha pouca meu pirão primeiro”, o desejo de vencer a qualquer custo carcome as virtudes.

Acho que umas das cenas mais me marcaram no cinema foi a cena final do filme “Perfume de mulher”, quando o personagem de Hoffman faz a defesa do personagem de O´Donnel perante o conselho escolar, achei espetacular, um momento inspirador sem dúvidas.

Foi um discurso extremamente crítico, recheado de ironia, e embora sem sutilezas não havia sectarismo nas suas falas.

Deveria ficar esperançoso de que na verdade tais sentimentos não estejam mortos, mas apenas latentes, que em algum momento podem emergir como um todo e assim deixaríamos como legado para a próxima geração uma visão crítica menos deturpada.

Digo deveria porque não tenho essa esperança, meu post anterior pode servir como um insipiente arremedo de propedêutica niilista o que dispensaria maiores explicações.

Mas, parafraseando Millôr Fernandes, o pessimista é o único que está preparado para ser otimista quando suas previsões derem certo.

Ultimamente estou alinhado com a filosofia do In Vino Veritas.


“Eu que já não sou assim
muito de ganhar,
junto as mãos ao meu redor
Faço o melhor que sou capaz
só pra viver em paz.”

Marcelo Camelo.

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Em quase nada.

Antigamente eu achava que tudo devia ter uma razão.

Perdi muito tempo da minha vida tentando entender mecanismos simples, atitudes complexas, situações insólitas, etc...

Hoje eu acho que não, tenho a impressão de que o grosso dos acontecimentos são vazios de razões.

Parece-me que eu perdi tempo demais procurando fundamentações que não existiam, talvez durante uma fase de nossas vidas nos prendemos a idéia de que temos que nos importar com o conteúdo em detrimento da casca.

Mas a grande questão é que muitas vezes a casca não tem conteúdo, e isso não deveria a fazer menor, a idéia de que ela deve sempre ter conteúdo é uma espécie de percepção social incutida na nossa mente.

Tudo isso apenas para se concluir que uma casca é apenas uma casca.

Me lembro sem saudosismo do tempo em que eu queria mudar o mundo, que todo o esforço e boas intenções seriam recompensados ainda que extemporaneamente, que existiam verdades absolutas e que havia um motivo para tudo.

Agora concluo que apenas queria dar um sentido lógico aos acontecimentos, mas não considero isso como uma piora, apenas uma nova perspectiva de se enxergar as coisas, um novo redescobrimento.

Mas mesmo assim, vou apenas dizer que eu queria acreditar em algo.

"Se Deus está morto, então tudo é permitido" - Dostoiévski.

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Om mani padme hum

E o frio mais uma vez abraça o Rio de Janeiro.

Interessante como ele estimula a inércia de forma tão peculiar.

Em determinados momentos fico enrolado no edredom com o rosto contra o travesseiro ouvindo meu coração bater, gosto disso, faz com que me lembre que ainda estou aqui, e assim permito-me protelar meus compromissos.

Prostrado entre aspirações intensas e atitudes pusilânimes fico a divagar sobre a volatilidade que marca veementemente a realidade ao meu redor, mudando tanto as impressões anteriores, agora obsoletas, quanto minhas previsões, estas mais tênues do que nunca.

E como em uma rapsódia sui generis, com um enredo pobre, ausente de insignes protagonistas, em cuja encenação não haja nada mais do que personagens cujas atitudes mais interessantes derivem de suas naturezas anfóteras.

E eu e minha indiferença como expectadores.

O frio deixa o dia-a-dia um pouco insosso.

Difícil encontrar algo animador, queria um dia conseguir escrever algo que se eternizasse.

Não a minha autoria, mas sim o texto, algo que de tão repetido fosse impossível descobrir a origem, virasse um provérbio, alguma fábula como “O monge e o escorpião”.

Um mantra...

Quanta petulância!

domingo, 1 de agosto de 2010

Sem plano B

Ou ainda, embaixo da aparente estupidez existe a verdadeira estupidez.

Rememorava uma noite dessas de uma cena do filme “A lista de Schindler”, o serviçal do comandante responsável pelo campo de Auschwitz o comunica que não conseguiu retirar uma mancha de sua banheira, no que este, momentaneamente convencido por Schindler de que ser magnânimo era um sinal de superioridade, ao ser liberado o ajudante segue de volta aos alojamentos quando subitamente percebe que o militar havia mudado de idéia.

Subitamente, ao perceber que o primeiro tiro havia sido disparado ele estanca.

Fico imaginando o que ele pensou naquela hora...

Após alguns instantes ele recomeça a andar, nem mais rápido nem mais devagar.

Deve ter respirado fundo...

Talvez ele tenha pensado que seria melhor mesmo receber aquela bala e acabar com todo o sofrimento, o coração dele devia estar a mil.

Talvez ele apenas quisesse mostrar que tinha orgulho, que preferia morrer a ter que se sujeitar a sair correndo.

Talvez ele tenha apenas entregue ao acaso o resultado, pensado algo como “Foda-se, correr só vai protelar o inevitável”.

Acho que foram mais dois tiros errados antes do fatal, não me lembro ao certo, já faz muito tempo que assisti ao filme.

Putz, que situação...

Não recordo porque me lembrei dessa cena, tinha tomado uma garrafa de vinho (sim, comprei o saca-rolha) e estava lendo um livro que contava basicamente pequenas crônicas ou contos geralmente sobre ditaduras (estava me sentindo muito erudito nesse dia, rsrs), como o autor tem um viés de esquerda ele romanceava as estórias.

Provavelmente li alguma coisa que inconscientemente liguei ao filme.

Às vezes o orgulho é a única coisa que nos resta, somos sustentados unicamente por ele, não deixa nossa dignidade escorrer pelo ralo, é o elo que mantém o trinômio honra/hombridade (lato sensu)/humanidade unido.

Quem sempre se curva, com o tempo vai chegar a um ponto em que não mais conseguirá recompor sua postura.

Um amigo que residiu tempo fora do Brasil certa vez passou por um baque financeiro muito forte, e por conta disso teve que se submeter às situações mais insólitas imagináveis, como levar para casa papel higiênico de banheiros do comércio, entrar em albergues e se misturar aos hospedes para poder tomar o café-da-manhã, as ameaças de despejo viraram rotina, dentre outras coisas.

Um dia, na hora do almoço, ele entrou na fila do programa do governo que fornece refeições aos sem-tetos.

Quando já estava perto de chegar a sua vez, ele entrou em crise existencial e saiu da fila.

Foi para casa e colocou a melhor roupa que tinha e seguiu para o melhor restaurante que havia na sua vizinhança.

Comeu e bebeu do que havia de melhor.

Levantou-se e saiu sem pagar as contas.

Ok, pode não ter sido algo muito aconselhável, mas não consegui conter um sorriso de satisfação quando ouvi o relato.

Nada como um pouco de orgulho para nos manter vivos.

Esta característica eu tenho até demais, e embora ela tenha me causado mais problemas do que trazido benefícios, mas nesses dias tão maçantes aqui no Rio e sem um plano B, é que ele tem me sustentado.

Minha mãe me ligou hoje, em setembro vou com ela e meu padrasto passar 10 dias no Peru.

Bussunda tinha razão, mãe é mãe.

Certa vez estava discutindo em um fórum, quando um dos debatedores parafraseando alguma frase famosa me disse: “Diogo, ele pode parecer um idiota, agir como um idiota e falar como um idiota, mas meu amigo não se deixe enganar: ele é um idiota, só não enxerga quem não quer.”

O problema é que muita gente não quer enxergar o óbvio.

Sempre me guiei tendo como princípio fundamental que se eu agisse sempre seguindo os ditames éticos da vida em sociedade que os bons resultados viriam naturalmente com o passar do tempo.

Algo na linha “o mundo lhe devolve o que você emana para ele”.

Infelizmente isso não funciona assim, a concorrência é desleal e normalmente se dá muito bem.

Por que as pessoas gostam tanto de cavar a própria cova quando a oportunidade está ao lado? E elas certamente percebem isso...

A mente humana continua indecifrável para mim.

Ando me sentindo meio imprestável por esses dias, preciso de idéias para desenvolver um projeto, mas está difícil, estou tendo um bloqueio criativo.

“... Por que todos temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais.” - Eduardo Galeano.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Olha lá...

Acho que dei uma topada essa semana...

Passado o mau-humor, resta claro que a culpa é só minha mesmo.

É sempre mais fácil culpar a conjuntura do que a mim mesmo, mas me lembro sempre de uma frase dita pelo personagem de Jack Nicholson em “Os infiltrados”, algo do tipo “Não quero ser um produto do meu ambiente, quero que o meu ambiente seja um produto do que eu sou”.

Sou eu que tenho que fazer minha própria conjuntura.

O difícil é ter que fazer alguma coisa...

São meus atos que determinam o que eu sou e o que vou conseguir, e não os terceiros e circunstancias ao meu redor.

Não me falta vontade, minha carência é de ação.

Acho que estou precisando confiar mais nas coisas em que acredito, mas me parece também que acredito em muita coisa que não vale mais nada.

Com o passar dos tempos alguns conceitos perderam os seus valores, devo ter alma de velho mesmo.

sábado, 24 de julho de 2010

Think different!!!!

Decididamente estou doente, segundo post do dia...

Comprei duas garrafas de Carmenere Reserva, pensei em comprar o Casillero del Diablo já que prefiro o Cabernet Sauvignon (embora uma amiga me tenha feito o desprazer de associar o gosto dele ao de pimentão), mas achei um desperdício tomar ele sozinho, alguns prazeres devem ser compartilhados.

Comprei torradas e alguns frios também, tudo passa tão rápido nessas frias noites cariocas, pensei em me distrair bebendo e lendo alguma coisa.

Pena somente agora a noite ter me dado conta que não tenho um saca-rolha, vai ficar pra próxima...

Melhor assim, estou meio grogue hoje.

Não sei por que ultimamente tem me dado vontade de ir a um sarau, nunca fui, mas deve ter gente interessante lá.

Saraus sempre me passaram a idéia de serem freqüentados por pessoas mais velhas, professores universitários aposentados, casais de pseudo-intelectuais ou simplesmente por gente chata.

Casais e pessoas mais velhos normalmente curtem a minha presença, possivelmente porque sou um pseudo-intelectual chato, então não deve ser problema pra ninguém.

Talvez eu conheça alguém pra jogar xadrez.

Gosto de conversar com gente mais velha, de levantar tolas questões filosóficas, pra ouvir as mais variadas respostas, eu me divirto com a variedade de respostas e suas divergências entre si.

Principalmente se eles tiverem bebido.

Se eles não conseguiram resolver seus próprios anseios existenciais que se dirá acerca dos meus? Os conflitos dos outros sempre soam mais simples aos nossos ouvidos.

Como faço pra abrir um viés diferente na mente de outra pessoa?

Maybe

Em casa, com gastrite, doente (alergia ou resfriado, ainda não identifiquei) e apesar dos Kg´s extras ganhos durante as férias estou deglutindo um delicioso bolo de chocolate com coco!!!

Minha vida recomeça pra valer segunda, espero que minha saúde e o tempo colaborem para que eu possa aproveitar esse sábado numa boa...

Acho que estou de volta à vala comum, mas tudo bem, talvez eu apenas não queira saber, nesse momento isso me seria absolutamente indiferente mesmo.

Ou como diz Poste: “Eu nem queria”.

Talvez eu esteja com vontade de me expandir um pouco, ando meio inquieto, impaciente e indeciso.

Pelo menos meu sono melhorou, ou talvez tenham sido as moléstias e seus respectivos medicamentos.

Ando com uma memória péssima pra nomes, Tiago me disse que eu deveria criar um papagaio e ensinar a ele algumas palavras, talvez assim minha memória não me deixasse tanto na mão.

Talvez seja apenas uma fase mesmo, talvez passe logo, enquanto isso apenas aguardo.

Em tempo, Daniel me passou a discografia completa do Oasis, eu nem me lembrava que gostava.

"Maybe I don't really wanna know
How your garden grows
Cos I just want to fly
Lately, did you ever feel the pain
In the morning rain
As it soaks you to the bone

Maybe I just want to fly
I want to live I don't want to die
Maybe I just want to breath
Maybe I just don't believe
Maybe you're the same as me
We see things they'll never see..."

terça-feira, 20 de julho de 2010

Todo dia a insônia me convence que o céu faz tudo ficar infinito...

Cazuza, sem dúvida não era um exemplo de conduta, mas nos brindou com pérolas como essa frase, ouvi a música um dia desses na casa de um primo e fiquei rindo de mim mesmo por nunca ter me dado conta de como me identifico com essa frase.

Pro bem ou pro mal, a insônia teve participação primordial na minha vida, quantas coisas já passaram pela minha cabeça nessas madrugadas em claro...

Já de volta ao RJ, estava com saudades.

Já vi que vai ser osso me readaptar a rotina depois de três semanas fora, me parece ainda que estou no meu quarto em Aju.

Preciso pegar logo o ritmo das aulas, estudos, leituras e principalmente voltar rapidamente pra academia, trouxe 5 Kg de brinde das férias.

Embora um pouco desacorçoado por um lado, ando um pouco esperançoso com outro, isso foge ao meu padrão normal.

Queria mesmo que os olhos fossem realmente os espelhos da alma, facilitaria muito as coisas, que passagem uma mensagem em Arial com fonte 16 bem fácil de entender.

Ficar em dúvida é uma merda, espero resolver isso antes que o mundo acabe.

Aliás, vendo o jornal, vazamento nos EUA e na China, eu to quase comprando uma lata de óleo e indo jogar no mar para não me sentir excluído desse processo de degradação global.

Se bem que aqui em Copacabana uma lata de óleo não fará diferença nenhuma...

Por outro lado, amanhã torno a supervisionar meus contatos para meus projetos futuros, estou quase confiante que dessa vez os acontecimentos irão marchar positivamente, mas mantenho, como sempre, um pé atrás, meu escudo para um eventual imprevisto, então a principio mantenho o curso atual como meta.

E nesse dia dos amigos solitário, sinto falta das minhas malas.


O pintor Waldeny Elias atende à campainha de seu ateliê na Rua General Vitorino e lá está Mario Quintana.

Viera agradecer pelo presente, uma “pintura de bolso” de 6 cm x 4 cm.

Levava-a, contou com um sorriso português, “na algibeira do fato domingueiro”.

Retribuiu presenteando o velho amigo com o recém-lançado livro Do Caderno H.

Na dedicatória, justificou porque não havia aceito um quadro grande que o pintor lhe oferecera.

- Elias, me desculpe e acredite. Eu não tenho paredes, só tenho horizontes...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Rosa dos ventos

De volta de outra incursão pela madrugada, sem dúvida uma vantagem de estar em Aju.

Entreguei ao acaso meu retorno ao RJ (leia-se acaso pedi pra meu pai comprar minha passagem).

Interessante como algumas pessoas surpreendem a gente, tive uma mudança brusca de opinião recentemente, de forma negativa, diga-se de passagem, engraçado como pode existir uma diferença abrupta entre a aparência e a convivência.

Mas já estou conformado com minha dificuldade crônica em entender as pessoas, principalmente as que me cercam. Acho que meu problema é que procuro enxergar nos atos alheios as motivações que eu teria para agir daquele modo.

Como se eu me projetasse nos outros, como forma de entender o que eles fazem, mas como é de conhecimento universal somos todos diferentes uns dos outros e eu não sou exatamente alguém que se poderia encaixar em um senso de pessoa comum.

Mais complexo do que eu é difícil de encontrar, acho que é um problema de família, Poste diz que somos exóticos.

Morar só parece que anda turvando ainda mais minhas análises antropológicas, a impressão que eu tenho é que ando errando em quase tudo.

Já tinha esse desvio quando ainda morava aqui, tantas vezes fiz afirmações carregadas de convicção para em seguida sob o olhar atento de algum amigo ouvir: “Diogo, você esta querendo enganar a quem?”

Obvio que só poderia ser a mim mesmo, devem ser os pequenos surtos de otimismo que eventualmente eu tenho ou então minha velha e boa ansiedade que às vezes volta a bater na minha porta.

A ansiedade é uma conhecida antiga, duramente combatida e embora apaziguada, de tempos em tempos aparece para que eu me lembre que ela estará para sempre ali e que pelo resto da minha vida devo ser cuidadoso com ela.

Mas como interpretar pequenas atitudes de outrem? Pelo que eu gostaria que elas significassem? Talvez não seja o mais indicado, mas às vezes é um alento.

Depois do incidente em Antares eu me tornei cético com o comportamento humano, o problema é que é difícil domar nossos anseios, mas já vai muito longe o tempo em que eu era um sonhador.

O mal de morar em uma cidade com poucos amigos, me falta quem me embase nas minhas opiniões, ou discorde mesmo, só queria uma opinião isenta, sinto falta da minha tropa de choque, seja pra me incentivar ou cortar meu barato

Acabo de me descobrir um inábil em relacionamentos sociais, mas claro que isso só deve ser novidade pra mim, detesto ficar criando conjecturas.

Na verdade eu queria uma luz.

Um pouco desnorteado no momento.

Continuo sem criar perspectivas, acho mais saudável e seguro assim.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Home sweet home.

Engraçado como passar as “férias” em Aracaju conferem um certo ar nostálgico a tudo que faço.

As estórias antigas estão mais engraçadas do que nunca, aquele amigo se formou e eu nem sabia, o outro que está aborrecido e por conta disso afastado por um tempo, outro finalmente resolveu sair da casa dos pais e morar só, a filha um grande e antigo amigo está enorme, tinha nascido um pouco antes de eu ir morar no Rio, só a havia visto na maternidade.

Mas nada tão bom como sentir que se é prestigiado, saber que sentem sua falta.

Receber ligações pra fazer qualquer coisa, saber noticias sobre o dia-a-dia do pessoal, sair pra comer... Programas provincianos, bom demais...

Não me preocupo se estou com dinheiro, se estou sem carro, se está chovendo, etc...

E esta dúvida que paira sobre minha cabeça sobre antecipar o meu regresso, essas incertezas é que me matam.

Mas hoje foi um dia promissor, acho que plantei uma semente pro meu retorno em definitivo no futuro para Sergipe, porém, ainda é muito prematuro para se concluir algo.

De qualquer forma é bom saber que tenho meu espaço.

There´s no place like home.

domingo, 4 de julho de 2010

These streets will make you feel brand new, the lights will inspire you.

De férias em Aracaju.

Não devo ficar aqui até o final, estou um pouco ocioso esses dias, no RJ pelo menos eu retomo minha rotina. Engraçado que estou sentindo saudades de lá.

E realmente me parece que nada torna mais presente o que está ausente do que sentir saudade, mas não acho um sentimento saudável, na verdade sentir saudades é uma merda.

Claro que há quem ache o contrário, o mundo está cheio de teóricos...

Conversando com um grande amigo, relembrando grandes bobagens que fizemos juntos e perguntei se ele se arrependia no que ele me respondeu: “Diogo, ou eu faria igual ou faria muito pior”.

De fato, não me arrependo de nada, óbvio que tem coisas que eu não repetiria jamais, nem tenho mais saúde pra muitas coisas, mas cada bobagem teve sua respectiva conjuntura, os erros que cometi ficaram como lição, as bordoadas que tomei me deixaram mais forte, as punhaladas que sofri me deixaram mais esperto.

Mas tudo tem sua serventia.

Acho que o mais importante é que não carrego nada de ruim comigo, toda a raiva, frustração, mágoa, inveja e qualquer outro sentimento desta seara ficaram para trás.

Não sou Gandhi, impossível ao longo da vida em determinados momentos não sentir algo do tipo, o importante é não cultivar.

O que me faz mal eu elimino da minha rotina, e isso vale pra tudo, vivo em paz comigo mesmo, me preocupo nas minhas relações em deixar transparecer exatamente aquilo que eu realmente sou, não quero que eventualmente me digam que meu comportamento surpreendeu alguém, não construo uma imagem que quero que os outros tenham de mim, estaria mentindo pra mim mesmo.

Je ne regrette rien

domingo, 13 de junho de 2010

E continua o frio no Rio de Janeiro...

28 anos, não vou mudar, já disse isso antes, salvo claro pequenas adequações inerentes ao ambiente social e talvez corrigir um vício ou outro, mas nada de muito profundo.

Não sou apropriadamente conhecido pelo meu esforço em agradar os outros, não sou efusivo, normalmente calado, quando falo usualmente acabo falando o que não devia, tenho uma dificuldade enorme para manter a atenção, impaciente e intransigente, não raro também mal-humorado, mas não descarrego minhas irritações em ninguém, simplesmente tiro um tempo pra mim mesmo e corto da minha vida o que me incomoda.

Mas tenho qualidades, caso contrário não teria meus bons amigos, que embora muitas vezes me irritem me fazem muita falta aqui no Rio de Janeiro.

Gosto de ler, esse ano aos poucos readquiri o hábito perdido, neste sentido o ano já foi muito produtivo, sou tolerante com os defeitos dos outros, também venero o cinema, infelizmente tenho ido menos do que gostaria, as produções também não tem colaborado muito, tenho um ouvido muito bom para os problemas alheios e como tenho uma certa facilidade em racionalizar tudo acabo ouvindo mais do que gostaria, mas dos amigos são os defeitos que temos que suportar pois as qualidades qualquer um agüenta. Outro dia conversava com um amigo que me disse isso: “Diogo, tem gente que não consegue viver consigo mesmo, que dirá com os outros” e é verdade.

Um pouco cansado de ouvir opiniões sobre minha vida, não preciso que me digam o óbvio.

“Me aceita assim como eu sou, me deixa ser o que for”. Sergio Britto.

Oras, quando reclamo de alguma coisa ás vezes é só um desabafo e não uma reclamação propriamente dita, apenas para aliviar a pressão, se o problema é antigo eu obviamente já sei qual é, se não resolvo é porque não consigo, é da minha natureza.

Dizer que a solução é simples é subjetivo demais, o que é simples para uma pessoa muitas vezes não é para outra. E qual o problema em sonhar um pouco? Se eu não sonhar quem vai sonhar por mim? Sou um pessimista por vocação e formação, as expectativas que crio são as negativas, mentiras sinceras definitivamente não me interessam.

Conversas despretensiosas, sem muita profundidade, com pessoas sem muito conhecimento de causa tem se mostrado mais saudáveis ultimamente. Afinal, viver só se for de coisas boas, para que complicar tudo? Porque tudo precisa de explicação ou conteúdo? Fazer e falar bobagens são atitudes que quebram a seriedade do dia-a-dia e que dentro da medida fazem bem as pessoas.

Alegrias efêmeras e pequenos prazeres também completam nossa vida.

As coisas estão bem, que continuem assim, mas sinto a necessidade de idéias novas, afinal nunca se sabe quando o inesperado vai acontecer.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Por um mundo menos ordinário.

Enterneci-me com a chateação de uma amiga e fiquei ruminando sobre frustrações.

É da nossa natureza a repetição espontânea de atos com a concludente adoção de resoluções que temos ciência que nos levará a um estado de abatimento.

A própria frustração pode ser o gatilho de sentimentos lesivos, damos importância demais a alegrias fugazes ao invés de dar a volta por cima com uma atitude de não permitir que emoções medíocres nos aflijam.

É difícil aceitar que temos que aprender com nossas derrotas e fazer delas lições para buscar a maturidade e permanecer além da mediocridade.

A vida é cíclica, essa é provavelmente a única verdade absoluta em que acredito, me remete ao conceito de impermanência budista, o importante é ter consciência disto e tocar a vida em frente. Claro que sei que é fácil falar isso sem estar emocionalmente envolvido.

Obviamente que ninguém gosta de ter seus anseios frustrados e estas situações são inevitáveis, nestes casos é a duvida que nos faz avançar de qualquer maneira, amadurecer é apenas constatar a nossa fragilidade.

"Não podemos trocar as cartas que recebemos, apenas jogar com elas." - Randy Pausch.

terça-feira, 1 de junho de 2010

E eis que o frio torna a aparecer.

De um amanhecer preguiçoso a uma ida forçada a academia, ter que andar calçado para fugir do frio do chão do apartamento, de dormir de edredom, mãos e pés sempre frios.

Copacabana tem estado mais vazia por esses dias, seus idosos moradores e seus cães não devem simpatizar muito com o clima mais agressivo.

Eu não ligo.

Na ida o vento frio me faz bater os dentes, os cabelos se arrepiam, meu lado esquerdo entra em um estado de dormente, na volta o mesmo acontece com o lado direito.

Quando dou a volta para começar a segunda volta o vento frio já não incomoda mais, o corpo parece ter encontrado um meio termo para sua temperatura, já não sinto mais nada. E como se frio adentrasse pela carne, me parece que nada mais me importa, na verdade acho que já faz tempo demais que não sinto nada.

De súbito me lembro dos bons tempos nas festas de São João na minha adolescência, invariavelmente surpreendidos por uma chuva, ao amanhecer com os dedos engiados, os cabelos e as roupas encharcados e o gosto gelado de cerveja na boca. Mas, havia muita energia naquela época.

Mas a qual diferença?

Ainda muito tranqüilo, mas acho que meu problema consiste justamente nessa tranquilidade, muito estranho isso.

domingo, 23 de maio de 2010

Copo meio cheio.

O pessimismo quando sempre presente em nossos pensamentos se torna um entrave nas nossas vidas.

Li recentemente um texto que dizia que a pessoa que se caracteriza por uma negatividade, um antever de fracassos no que gostaria de alcançar, que rejeita antes de tentar, que desiste por temer uma derrota, é uma pessoa dominada pelo medo e pela covardia de viver. Para mascarar seu medo, costuma elaborar justificativas, com supostas razões, para si mesma e para os outros.

Está correto.

O pessimista gosta de se auto-denominar como realista.

É muito fácil frustrar-se e desestimular-se, qualquer indivíduo pode ser levado a desistir.

Mas o fato de estarmos exasperados não significa que temos que fazer com que a situação se deteriore ainda mais.

O supra sumo do otimismo William Godwin conjecturava que a sociedade humana tenderia a atingir um estado em que a razão viria a substituir todo o uso da força, a mente controlaria a matéria e a inteligência descobriria o segredo da imortalidade.

Ok, não vamos a tanto, mas no momento, afirmo que o copo está meio cheio... e de coca com gelo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ad inferos

Nada mais interessante de se observar que o fogo, sua amorfia é fascinante, não me refiro àquela flama constante e cônica de uma vela sem vento (ainda que aquela gota ígnea que se transforma em um filete de fumaça tenha seu it), e sim as labaredas de uma enorme fogueira ao ar livre, ou ainda, lembrando saudosamente de meus tempos de piromaníaco, do fogo sobre o azulejo cru embaixo do chuveiro alimentado apenas pelo álcool outrora tão acessível, este sim é a verdadeira manifestação física do caos, sua chamas levemente azuladas eram de uma beleza demoníaca, não seguiam traçado e se moviam com velocidade e fúria selvagens, praticamente sem produzir fumaça e quando se esgotava sumia quase que instantaneamente, sua força é incontestável. Talvez Nero não estivesse tão louco afinal, um incêndio em Roma deve ser algo interessante de se ver.

Antagonicamente existe a água, possivelmente o elemento mais apreciado pelos físicos, possui simetria e uma previsibilidade raras, uma pedra arremessada em um lago produzirá diversas ondas circulares e harmônicas entre si, pode se argumentar sobre a inconstância das marés, mas estas também seguem suas regras, são sempre esperadas não surpreendem, possuem sua força é claro, da mesma forma que podem produzir energia tem a capacidade de causar destruição (nunca a palavra ressaca foi tão apropriadamente utilizada para nomear um fenômeno), até as ondas seguem uma seqüência lógica.

Yin e Yang, se anulam, não se atraem, um é racional o outro caótico, um poderia ser a obra-prima de um arquiteto o outro trabalho de um engenheiro. Cada um tem seus atrativos, mas qual o mais interessante? Dizem que o homem teme aquilo que não compreende, não sei se é o caso.

O mar em fúria por vezes me parece mais digno de ser eternizado que um lago, a mesma tempestade que assusta também atiça nossos sentidos, nos deixa alertas! Que dizer então da fumaça negra de um grande incêndio? A prova mais visível da devastação, o prefácio de uma tragédia, esta causa repulsa.

Isso que me intriga, porque o óbvio não é tão sedutor?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ensaio sobre a insônia.

Nada mais eloqüente que o silêncio da alvorada. As horas passam devagar, pensamentos e fantasmas abrolham e submergem na mesma velocidade.

Nesta longa madrugada me sinto um cadáver acordado, absolutamente apático ao ambiente que me cerca, nem melancólico nem amável, uma insensibilidade anormal, no máximo uma leve preocupação com minhas condições físicas ao despertar, haja vista a infeliz necessidade de cumprir horários.

Coço a barba mal-feita e enquanto aguardo a aurora me dou conta que nem sei que horas são, mas isso não me incomoda, em verdade sinto uma paz incomum, uma despreocupação rara, uma tranqüilidade que andava sumida.

Realizo então que me encontro numa ocasião peculiar que me permite um flerte com a racionalidade em seu estado bucólico. No momento nada parece me chatear, tempos que pressagiam transformações respeitáveis parecem iminentes, mas me sinto incapaz de sentir sequer um mínimo de expectativa, curioso isso.

Aguardo tranquilamente.

A paz - Gilberto Gil.

A paz
Invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz
Fez o mar da revolução
Invadir meu destino; a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz
...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Amanhã não se sabe

O amanhã nos espera e ele chega tal qual um piscar de olhos, li certa vez que se deve seguir a vida equilibrando-se entre a pressa e a tranqüilidade tendo em mente que o silêncio quase sempre traz com ele a paz, dizia ainda que o cansaço é a origem de muitos medos.

Dizem que o homem teme aquilo que não compreende, em linhas gerais é uma verdade, e nesse contexto o futuro é de uma imprevisibilidade atemorizante. E nessas noites solitárias que logo se encerram fico a pensar onde estarei amanhã. Se na estrada em que piso hoje existem pedras por conta dos desvarios cometidos no passado e sobre o que estou plantando para o amanhã.

Já fiz muitas coisas na vida e sou satisfeito por isso, mas obviamente o primeiro passo para a evolução é a constante adaptação ao ambiente que me cerca, é preciso mudar.

O problema é manter os pés na realidade, haja vista que ela também é fruto da ação de terceiros que não raro são alheios a nossa vontade, o grande desafio consiste em conciliar um grupo de metas por vezes conflitantes e heterogêneas respeitando a individualidade de cada um.

Se esse tipo de ação fosse fácil os consultórios de psiquiatras e psicólogos não estariam tão abarrotados, o terceiro remédio mais vendido hoje no Brasil é um ansiolítico. Mas não vejo isso como demérito, é preciso sempre tentar, ao menos para apaziguar os demônios internos.

A chave da vitória é a tentativa, só quem erra inova, perder não é razão de vergonha, não há que se abaixar a cabeça por uma derrota, existem lições nas ruínas, “no pain, no gain”.

Mas mudar é difícil, é preciso muita grandeza de espírito. Hoje aqui amanhã não se sabe.

Minha força está na solidão. Não tenho medo nem de chuvas tempestivas nem de grandes ventanias soltas, pois eu também sou o escuro da noite
. Clarice Lispector.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Trinity

Todos os dias vejo o meu maior adversário em frente ao espelho, “eis o grande filho da ignorância” penso eu, lembro-me então o quanto sou pequeno.

Os espíritas dizem que o orgulho nos leva a considerar-nos mais do que somos, a não suportarmos uma comparação que nos possa rebaixar, a nos considerarmos tão acima dos outros que a menor analogia nos aborreça.

Fácil saber quando o orgulho pende para a dignidade ou para arrogância, por mais subjetivo que seja é um sentimento que transcende nossa própria personalidade e refletindo em terceiros, pois diz respeito à imagem que passamos ao demais, num contexto geral nos esforçamos para conter nossos próprios medos.

O medo ocasiona um estado de vigilância que gera um temor de agir, uma forma de reagir à ameaça, decorre da ansiedade, do temor antecipado da confrontação com o artefato do medo. O medo pode ser bom ou ruim, vai depender de sua intensidade, falta absoluta de medo invariavelmente resulta em estupidez.

O fracasso certamente é o maior dos medos, é visto como derrota e não como adiamento, o fracassado não tem amigos e só não fracassa quem não tenta nada. Costumamos esquecer que o fracasso está nos olhos de quem nos vê e que cada um nos enxerga a sua própria maneira.

O medo é o pai do fracasso, só se dissipa com o agir, mas o orgulho nos impede o movimento, preferimos o culto a nossa imagem. Mas tirando o orgulho o que nos resta? Um arremedo de pessoa? Um projeto do que poderíamos ser? Um orgulho ferido faz um estrago enorme, não sabemos distinguir mágoa de vaidade, entramos em um processo de autofagia. O medo de encarar os outros é letal.


"Você nasceu apenas com dois medos: o medo de cair e o medo do barulho. Todos os seus outros medos são adquiridos. Livre-se deles".
Dr. Joseph Murphy

segunda-feira, 12 de abril de 2010

In between days

Segundas e dias chuvosos definitivamente não são muito animadores. Só consigo me lembrar de músicas do tipo “Eletrical Storm”, “3 am”, ou ainda “I like Chopin”, morar sozinho por vezes é bem desgastante, ando absorto demais e isso é arriscado.

Minha maratona em Aeroportos não tem sido muito animadora, hoje depois de uma das minhas estadias mais curtas em Aju (acompanhado de muita chuva diga-se de passagem) meu vôo não conseguiu pousar no RJ, tivemos que ir para Vitória e aguardar outro avião, cheguei em casa de virote com cinco horas de atraso.

Parece que estou esperando algo acontecer, e fico em compasso de espera. Pensamentos nebulosos, parece que cinza é a única cor existente, o chão do apartamento está frio, tenho que andar de sandálias.

A solidão, como a entendo, não significa condição miserável, mas realeza secreta, nem incomunicabilidade profunda, mas conhecimento mais ou menos obscuro de uma singularidade inatacável.

In: Genet, Jean. O ateliê de Giacometti.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Somos quem podemos ser

Quando eu era jovem, meu pai por motivos alheios a sua vontade foi intimado a demitir um funcionário dele, Marcos. Aquilo me chocou, eles trabalhavam juntos há mais de 10 anos, na época eu tinha uns 15 anos. O tempo tinha transformado uma relação profissional em uma relação pessoal, meus pais eram padrinhos da filha dele, freqüentávamos a casa dele e eles a nossa.

Quando argüi meu pai acerca da seriedade daquele ato ele me retorquiu: “Diogo, nunca trabalhe com alguém que você não consiga demitir”. Claro que essa frase tem uma abrangência muito maior, ele não estava nem um pouco feliz com aquilo tudo.

Estava então a passear pelo shopping com uma Tia minha quando o encontramos, fiquei um pouco nervoso, era como se meu pai tivesse dispensado um Tio meu.

Perguntei como ele estava no que me disse: “Estou bem, nesses anos todos nunca havia tirado férias, agora aproveito pra refletir sobre a vida” (tanto ele quanto meu pai são conhecidos workaholics), disse ainda não estar chateado e entender perfeitamente as razões de meu pai.

Minha Tia desejou que a situação se resolvesse o mais breve possível, mas ressalvou “Lembre-se que ninguém é insubstituível”, no que ele prontamente concordou.

Hoje recebi um email que em certo fragmento dizia:

Na sala de reunião de uma multinacional o diretor nervoso fala com sua
equipe de gestores.
Agita as mãos, mostra gráficos e, olhando nos olhos de cada um ameaça:
“ninguém é insubstituível".
A frase parece ecoar nas paredes da sala de reunião em meio ao silêncio.
Os gestores se entreolham, alguns abaixam a cabeça. Ninguém ousa falar nada.
De repente um braço se levanta e o diretor se prepara para triturar o atrevido:
- Alguma pergunta?
- Tenho sim. E Beethoven?
- Como? - o encara o gestor confuso.
- O senhor disse que ninguém é insubstituível e quem substituiu Beethoven?

Oras, somos diferentes, singulares, não somos substituíveis. Esse conceito vem de uma sociedade mecânica, caixas de bancos podem ser trocados a qualquer instante, operadores de telemarketing, seguranças, etc... Mas jogar todos em uma vala comum não é algo inteligente de se fazer, o que falta em algumas situações é a oportunidade de que essa singularidade se revele.

Há um dito popular que diz que quando se retira uma mão de um balde cheio, a água toma seu lugar, metáfora que tem o mesmo significado da expressão combatida. Percebam que o liquido preenche o vazio mas o nível do balde abaixa. Não se preenche com água a alma, quando alguém se vai fica vago o seu lugar, vivemos com a lembrança, o que varia é como cada um vai lidar com ela.

Para finalizar, meu pai era empreiteiro e recebeu ordens superiores para demitir Marcos porque alguns atos deles não haviam agradado determinados poderosos. Alguns meses se passaram, as eleições se passaram, o poder não é eterno, e Marcos retornou para a firma, me pergunto se isso já não estava acertado entre eles, já que ele nunca fez força para arranjar outro emprego coisa que teria conseguido com certa facilidade, e que meu pai apenas deu a ele as férias que nunca havia tido até que o tempo necessário transcorresse.

Meu Pai enveredou pela política, foi prefeito por oito anos e fez de Marcos seu sucessor, eles já possuem mais de ¼ de século de parceria, maior parte dos casamentos atuais não duram tanto. As pessoas são insubstituíveis? Se há 26 anos meu Pai tivesse contratado outra pessoa a história teria sido a mesma? Não creio.

A vida é engraçada, meu pai nunca tinha pensado em ser prefeito, já Marcos tinha isso em seu horizonte.

terça-feira, 30 de março de 2010

Um pêndulo parado.

Muitas vezes em uma encruzilhada temos que tomar uma decisão. O problema é que na vida não dependemos apenas de nossos atos, sofremos reflexos de atitudes externas.

Lembro de minhas fraquezas, as mesmas durante a vida toda, sempre achei que elas se dissipariam com o passar do tempo, mas olho no espelho e vejo o mesmo rosto de 14 anos atrás e a mesma imprecisão na fronte.

Ceder? De novo? Para a felicidade geral da nação? Contrariar pessoas? E minhas vontades? Parece que estou tecendo a colcha de Penélope. Difícil quando a razão vai contra a vontade. O óbvio ululante irrita. Acho que preciso de uma luz, é um dos problemas de se morar longe de casa.

Já ouvi que somos predestinados a repetir os erros de nossos pais. Claro que não, acredito em escolhas não em destino, sempre tive como premissa que tinha como obrigação ser uma espécie de versão melhorada deles. Sou muito diferente dos dois.

Mas, na ânsia de me diferenciar, acabei não assimilando algumas das qualidades que admirava. E em momentos cruciais sinto o buraco na alma que esses predicados que naturalmente preencheriam. Faltou um equilíbrio, me sinto inacabado e agora isso me frustra. Nestas horas tenho vontade de virar um ermitão.

Estou preocupado, a insônia está voltando, parece que estou encarando um retrocesso.

Por onde anda o meu Yang? Bilu já tinha me chamado a atenção para esse fato, ainda não achei e o tempo urge.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Um exame de consciência.

Partindo de um lugar-comum que afirma que “aqui se faz, aqui se paga”.

Um conhecido padece de câncer e está prostrado em uma cama de hospital, precisando de um tipo de sangue difícil de encontrar.

Este conhecido agiu como um Judas com um grande amigo que lhe estendeu a mão em um momento difícil de sua vida. No entanto sua ganância encerrou com uma amizade de forma traumática e desastrosa e finalizou uma parceria que poderia ter gerado frutos futuros e resultou em seqüelas profundas.

E agora a vida cobrou sua conta.

Mas porque não sinto pena? Não possuo o tipo de sangue que ele necessita, mas provavelmente se tivesse não doaria.

Queria saber se refletindo sobre sua vida e constatando a inutilidade do dinheiro que ganhou à custa do suor alheio se está arrependido.

Seria possível uma redenção?

Será que perdi a fé nas pessoas? Não sinto culpa por pensar assim, espero que a idade não tenha enterrado minha sensibilidade.

domingo, 28 de março de 2010

As vezes as melhores coisas vêm de onde menos se espera.

O grande uma vez me disse “Não crie expectativas, mas não fique desatento, as situações mudam”, difícil saber apenas saber como fazer.

Seria o anunciar de novos tempos alvissareiros? Em verdade o ano tem sido muito bom, reclamar seria de extremo mau gosto, mas...

Acho que é natural do ser humano querer mais, provavelmente essa permanente sensação de insatisfação é o que nos motiva, estagnação nessas horas me parece até irracional.

Não consigo tirar o trem das sete da cabeça por esses dias.

sexta-feira, 26 de março de 2010

De banzo

Pois é, acho que essa semana santa não vai ser das mais animadas, mais um encargo da vida. Reclamei a Igo isso e ele me lembrou que estou aqui por opção.

Inevitavel não repensar minha situação. Não, não vou voltar, nem eu quero como também seria uma derrota. Apenas pensando nas possibilidades.

O mal de quem sonha demais é ficar tempo demais preso ao mundo do “e se...” enquanto isso o tempo vai passando... Nessas horas me prendo a idéia de que só inova quem erra.

Certa vez li que se não se deve deixar de sonhar, pois ninguém vai sonhar por você.

Sou prático demais para ser taxado de sonhador, além disso nostalgia não combina comigo.

Acho que a idade tem me deixado sério demais.


"Ria de si mesmo,
mas nunca duvide de si próprio.
Seja ousado!
Quando embarcar para lugares estranhos,
não deixe nenhuma parte de si em terra firme em segurança.
Atreva-se a entrar em territórios inexplorados."

Alan Alda

terça-feira, 16 de março de 2010

O inferno são os outros

Se as pessoas não mudam em sua essência, as conjunturas por sua vez podem se modificar completamente.

E até onde essa modificação afeta o nosso comportamento? Darwin já dizia que os sobreviventes não são os mais fortes e sim os que melhores se adaptam ao ambiente. Humanos são mestres na arte da adequação.

Interessante ver como algumas pessoas se violentam e entram em um processo de auto degradaçao psicológico. Não adianta ir contra a própria natureza.

Etimologicamente falando, submissão remete a idéia de humilhação voluntária. Seriam os “sapos” que temos que engolir no nosso cotidiano. O submisso é um indivíduo incompleto, impossível se realizar na vida nesta situação, ignora suas vontades em nome da satisfação de terceiros, passa a vida se sentindo um derrotado, inferior aos outros.

Até onde isso vale a pena?

sexta-feira, 12 de março de 2010

É melhor viver como um monstro ou morrer como um homem bom?

A premissa acima é do filme “A ilha do medo”.

Por vezes a realidade é tão dura que construir uma ilusão é a única forma de aplacar nossos demônios internos. Tenho retornado tanto ao tema da teatralidade do cotidiano social, que ao mesmo tempo em que começo a me tornar repetitivo percebo quão tênue é a linha que separa o real do virtual.

Talvez a loucura e a senilidade sejam fugas eficazes, e começo a sentir certa inveja daqueles que são alheios ao caos urbano, uma espécie de retorno a inocência ou ainda uma imunidade a apatia que nos cerca. Muitos certamente preferem esquecer um passado cheio de desgostos, talvez seja melhor mesmo.

Acho que a vida pode nos endurecer, mas tenho receio de que o amadurecimento me torne uma pessoa amarga, já fui idealista, hoje sou um pessimista e sinto que desde que comecei a morar sozinho me tornei um pouco misantropo e mais ensimesmado.

A pessoa amarga é um resmungão por natureza, difícil de agradar, a angústia o transmutou em um ser desesperançoso. Intuo que esse tipo de pessoa caduca mais rapidamente, como se fosse algum descanso para a alma.

Quiçá por isso me sinta atraído por pessoas espontâneas, com muita vitalidade, nada melhor que a transparência. Sejam grossas, sejam meigas, mas que sejam elas mesmas, isso é o que importa. Só tem algo a esconder quem valoriza o segredo, afinal quem tem medo da verdade? O que machuca mais? A verdade propriamente dita ou ter que escondê-la?

Patrícias de Santo Antônio de Aracaju – Tiago Carvalho

Provincianas... De uma boçalidade morna.
Naturalmente sensíveis ao interesse.
Caças níqueis!
Pobres moças aracajuanas....

Poema de um amigo meu.

Sempre achei engraçado demais esse culto a imagem tão típica de cidades pequenas, tão suscetíveis as opiniões alheias. Um dia desses rolava de rir ao ler um site sobre “noticias” de Aracaju, se é que saber da vida dos outros pode ser considerado notícia, o pseudojornalista mal sabia escrever, além dos erros crassos de português fazia uma mistura insana e desarticulada de com termos em inglês. E ele é um dentre muitos.

Mas pior que isso é a quantidade de pessoas que valorizam esse tipo de exposição, que sentem um prazer quase que carnal ao ver seu nome em uma nota de jornal, se a nota vier acompanhada de uma foto então se corre o sério risco de se atingir o êxtase.

Sinto pena mesmo, acho de uma pobreza de espírito inacreditável, fico pensando de que forma elas tentam preencher aquelas cabeças ocas, de quanta futilidade e massagem no ego algumas pessoas precisam pra viver, se isto as faz felizes, paciência a mim resta apenas observar e me deliciar.

Fico lembrando de quantas vezes fiquei disperso sentado em um banco de ônibus a ponto de passar da parada, eventualmente com um ar preocupado, ocasionalmente com um sorriso bobo no rosto, certamente algum passageiro já deve ter tido a certeza de estar viajando ao lado de algum tipo de idiota.

Mas quem se importa?

"Aquele que gosta de ser adulado é digno do adulador" Shakespeare.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Um dia a gente chega,

no outro vai embora. (Renato Teixeira).

O quanto pode extrair de um olhar? O que se pode deduzir de um par de olhos perdidos? O mesmo olhar em indivíduos diferentes possui o mesmo significado?

Lembro-me com clareza, mas sem saudosismo, do tempo em que a insônia me fazia enfrentar o nascer do sol. Ao raiar das primeiras horas da manhã ia para a beira da praia e deixava a água fria do mar molhar meus pés até a altura do calcanhar e me deixava divagar por longos minutos apenas apreciando a linha do horizonte.

Apreciar não é o termo mais apropriado, na verdade se em um destes momentos ocorresse um eclipse bem na minha frente possivelmente me passaria despercebido. A cabeça tão cheia, tão focada em varias coisas simultaneamente, pensamentos profundos, porém efêmeros, indo e vindo em uma velocidade tal que seria mais adequado dizer que não pensava em nada.

Se começasse a cair uma leve garoa então, entrava em nirvana...

Eis que essa ultima semana me peguei observando o olhar de meu progenitor. Absolutamente perdido, fixo em um quadro na parede, enquanto eu me perguntava se faria alguma diferença se eu retirasse o quadro. Será que ele continuaria a encarar a parede nua? Certamente que sim, já seria deverás recompensador se depois ele lembrasse que estive ali.

Questionava-me sobre o que se passava na cabeça dele, enquanto lembrava-me de mim mesmo. Perguntar seria uma absoluta perda de tempo, ainda que eu conseguisse me fazer entender (o que seria absolutamente improvável) dificilmente ele conseguiria se exprimir em palavras.

Seria possível não estar pensando em absolutamente nada? Teria se perdido em uma linha de raciocínio e sua mente ficado presa a ela? Não tenho como saber.

Lembro que já ouvi que ainda não inventaram um meio de viver muito que não fosse envelhecendo, rapidamente me ocorre que o tempo é mesmo imune as nossas vontades.

Se a vida com uma mão pode nos entregar prazeres e sucesso com a outra nos traz conseqüências e seus ônus, se por um lado nos trás felicidade por outro nos induz ao esforço. E junto com os anos que passam, vão-se também os nossos neurônios.

Inevitável não sentir certa resignação, a mesma que sinto quando vejo um animal atropelado na beira da estrada.

O olhar era o mesmo, mas o que nos separa além dos anos? Meu tempo também vai chegar.

terça-feira, 2 de março de 2010

Os Maias erraram!!!!

E nesses dias nublados, recebendo visita, muito resfriado, sem celular e sem internet em casa.

Podia ser pior, assistindo ao “Jornal Hoje” ontem (ambíguo, eu sei), entre terremotos, tsunamis, inundações, vendavais e desmoronamentos tive a impressão que ao final do programa iriam anunciar a data provável do fim do mundo, pelo visto os Maias estavam errados e ele será em 2010 mesmo.

Enquanto caminho pelo RJ, ao chegar em casa constato empiricamente que de fato é a cidade mais imunda proporcionalmente do Brasil, minhas pernas estão imundas. Se aquelas chuvas que caíram em São Paulo tivessem ocorrido aqui a cidade teria afundado em um imenso buraco negro de esgoto.

Gel me disse que o “portinho” em Salvador está uma vergonha, tomado pelo lixo. Engraçado que quando o problema estoura quem mais reclama são os mais afetados que também são os que mais sujam. Mas quem vai educar ambientalmente a massa ignorante? É projeto de longo prazo e políticos precisam de votos agora.

Lembro-me quando fui passar o réveillon em Arraial, crianças vendiam filhotes de tucano na beira da estrada, “Tirei do ninho hoje de manhã tio!!” me disse um dos guris cheio de orgulho. Revoltante, mas um paradoxo que me lembra o dilema da sereia (vide: A novidade – Gilberto Gil). Como incutir na cabeça dele as conseqüências do que fazia agora em detrimento de uma necessidade imediata?

Enquanto isso um acéfalo essa semana me reclamava da dificuldade que teve para andar de carro em Amsterdã, haja vista que lá eles dão preferência ao transporte publico e incentivam o uso de bicicletas e outros meios de transportes limpos.

Somos todos tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais que ás vezes bate uma desesperança.

Quando todo o mundo é corcunda, o belo porte torna-se a monstruosidade.

Honoré de Balzac

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cegos, surdos e burros?

Há pouco tempo li uma resenha muito densa sobre a “Sociedade do espetáculo” de uma socióloga cujo nome não me recordo, que logicamente tem como inspiração o livro homônimo de Guy Debord, embora o livro em si seja uma crítica aos meios de comunicação em massa, a resenha foca mais na questão da uniformização de pensamento da população em detrimento a individualidade, dando mais importância à forma que ao conteúdo, sem questionamentos críticos.

E eis que me cai em mãos um texto de Leonardo Boff, onde ele traça um paralelo entre Saramago e Affonso Romano, tecendo duras críticas a “cegueira” tão típica das sociedades atuais, questionando sobre a quantidade de informações com as quais somos bombardeados, mas que no entanto carecem de profundidade e colocam “escamas” (termo usado por ele) nos nossos olhos, e se pergunta até onde isso é bom ou ruim.

Por fim acabo de ler isso:

“... Podemos decidir viver e participar do deslumbrante banquete da vida sem reações mentais negativas, ações cruéis e egoístas ou emoções impulsivas. Ao fazermos esta escolha, nossos sentidos se aquietam e começam a encarar a vida com desapego e leveza, diminuindo em muito as oportunidades de conflito.

Ao compreendermos definitivamente o sentido ilusório daquilo que nomeamos realidade e o caráter sagrado de tudo que há, deixamos a vida fluir com uma maior consciência da abundância divina.

O Ser Desapegado nos fortalece na vida diária. Ao percebemos a irrevogável verdade de que “tudo o que move é sagrado...”, nos tornamos além de desapegados, amorosos e compassivos. Pessoas melhores de se ter perto, conviver, partilhar. Damos do que há em nós. Vamos além do pão. Ofertamos ao sagrado banquete da vida nosso conhecimento, força de trabalho, intuição, tempo, criatividade, fé. Somos dádivas perenes.

Ao nos desapegarmos ficamos também tolerantes, pois sabemos repetir o antigo gesto e as mágicas palavras: “Nada tenho, mas do que tenho lhe dou...”


Autor desconhecido (na verdade nem tentei procurar na net).

Não me sinto muito inclinado a concordar com esse último texto, me parece conformista por demais, deixamos de exercer um raciocínio crítico em troca de uma vida mais fácil. Tolerância nesse contexto me parece sinônimo de passividade.

Mais uma vez voltamos à questão das máscaras, claro que uma vida em sociedade exige uma série de comportamentos em nome da “paz social”.

Há poucos dias Miloca me questionou sobre a sensação de as vezes não sermos os protagonistas de nossas vidas e discutimos sobre individualismo e outros comportamentos e questionamentos que vão mudando com o passar do tempo.

Não sei o que nos leva a ser políticos, ou o que estamos evitando, mas a sensação de que estamos mudando com o passar do tempo já é um avanço, estagnação normalmente denota incapacidade de evoluir ou falta de vontade.

As vezes é a dor que nos ensina a viver.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Toda volta é um recomeço.

Não, não acredito piamente nisso. Recomeço do quê?

E quem quer recomeçar? Iniciar do zero novamente? Ou partir de um ponto preestabelecido?

Recomeçar quer dizer que se fracassou na primeira tentativa? E quem recomeça faz isso por vontade própria ou por falta de opção?

Acho que na melhor das hipóteses significa uma retomada de ânimo, uma vontade revigorada. Muitas vezes sou abatido pela falta de motivação, acho que é próprio do ser humano, todos precisamos de foco, não se vai ao longe sem um rumo definido.

E o que nos motiva? Cada ser humano é único em suas vontades assim sendo temos nossos próprios gatilhos, seja um desafio, um sentimento como a ira, etc...

O sentimento de recomeço só é agradável quando vem junto com a possibilidade de triunfo, caso contrário cava-se cada vez mais fundo o poço, ninguém fica satisfeito com uma perspectiva de fracasso eminente.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Wind of change.

Recém chegado de Recife/Olinda.

Muito cansado, mas ao mesmo tempo muito desestressado.

Nada como passar uns dias na casa de nossas mães, para quem mora só que nem eu é bom demais chegar em casa e ter comida pronta, não ter que se preocupar em lavar nada e as roupas miraculosamente aparecem limpas.

No RJ, em muitas ocasiões eu opto em comer na rua apenas para não ter que lavar nada depois, sem falar que é altamente desgastante chegar em casa, cansado e ter que se ocupar em preparar algo decente para comer para não cair no circulo vicioso das comidas, digamos assim, menos saudáveis.

Por vezes os motivos que me levaram a ir embora me parecem muito obscuros, como uma lembrança distante, em Aracaju as coisas são muito mais fáceis, os lugares mais acessíveis e os amigos mais abundantes.

Quando fui embora de Aracaju estava saturado da cidade e da vida que vivia aqui, não agüentava mais sair e menos ainda ficar em casa.

No entanto minhas passagens por aqui são altamente revigorantes lamento apenas não ter tempo de ver todos que gostaria, mas paradoxalmente já sinto saudades do Rio, do meu apartamento naquele calor infernal e eu sem ar-condicionado, as camas da casa de minha mãe já não me parecem tão aconchegantes, lembro com nostalgia de minha cama Box (a mais barata da loja) que me aguarda lá no Rio.

Conversando sobre isso com Fábio ele me chamou a atenção para o óbvio, eu estava perdendo minha referência de lar. Minha mãe comprou um apartamento e vendeu a casa, provavelmente quando eu voltar já terá se mudado, nem imagino como vai ser afinal morei 28 anos na mesma casa.

“Não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às mudanças.” Charles Darwin.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Existem mais coisas entre o céu e a terra...

Detesto clichês. Sempre soou para mim como sabedoria de rodoviária as frases do tipo: “Tudo tem seu tempo”, “As pessoas não mudam” ou ainda “Em tudo na vida é preciso equilíbrio”.

Afinal, é irritante, depois de narrar toda uma situação, delinear contornos, traçar possibilidades e imaginar alternativas quando seu interlocutor simplesmente olha para você e diz algo como: “A desonestidade une as pessoas”.

Silêncio...

O mínimo que se espera é uma opinião, entretanto algumas pessoas parecem que preferem se sair com uma frase de efeito, um chavão repetido ao longo dos tempos e a princípio inquestionável (afinal “Tudo é relativo”), e finalizar a conversa como se tivesse dado um conselho valioso ou chegado a uma conclusão brilhante.

Realmente, é fato de que quem apenas observa uma conjuntura tem a capacidade de realizar uma dedução circunstancial lógica que, normalmente, quem está envolvido não consegue.

Mas daí a utilizar uma expressão que pode ser utilizada a uma infinidade de situações e ao mesmo tempo não se ajustar perfeitamente a nenhuma delas, me parece simples por demais.

Somos únicos pela própria natureza humana assim como os fatos que nos acontecem e a forma como reagimos a eles, somos discricionários na maior parte de nossas atitudes.

Então não acredito ser possível resumir uma universalidade de possibilidades em uma única sentença.

Em tempo, o clichê mais azucrinante que existe é aquele que está correto.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Sobre meninos e lobos.

Em que ponto das nossas existências ocorrem os fatos que representam encruzilhadas nas nossas vidas? Não me refiro apenas à tomada de decisões que importem em mudança de rumos, mas também a fatos dos quais não temos controle que insurgem como fatores determinantes nas nossas biografias.

É possível lembrar-se da encruzilhada, e ao mesmo tempo rememorar a imagem que projetávamos do futuro naquele ponto, antes de seguir adiante. Os eventos por vezes pareciam tão certos, tão nítidos. As coisas ficaram melhores ou piores?

Mas o que mudou as coisas? Em que momento o lobo abocanhou o menino?

Claro que somos responsáveis por nossos atos, mas o que há por trás deles? O que nos motiva? Que interpretação histórica há neles? Que influência nossos amigos tem nas nossas decisões e de que forma reagimos às ações deles nas nossas vidas? Até que ponto o meio realmente forma nossa personalidade?

Homo homini lupus.

Quando se coloca um sapo em água fervendo ele automaticamente pula fora, mas se for colocado e aos poucos se esquenta a água ele morre cozido.

Bilu me disse que por vezes convivemos tanto com alguém, sabemos tantas coisas sobre essa pessoa, que somos incapazes de perceber coisas óbvias sobre elas, características marcantes, em suma ver o óbvio. Será que é isso mesmo?

E de repente o que parecia lógico vira uma imensa incerteza. E como agir a partir daí?

Ainda sou muito novo pra olhar para trás e me sentir arrependido pelas coisas que fiz, claro que muitas eu não repetiria e muito do que aconteceu não foi culpa exclusiva minha, mas só quem erra inova.

Quem não dá chance ao azar, também não dá para a sorte.

De volta da selva

Manaus até que não foi ruim, me disseram que dei sorte, o clima até que estava agradável (esperava uma sauna) e a prova não foi ruim como pensei que seria. Do aeroporto fui direto ao hotel no centro, que ficava ao lado do local da prova, e do hotel de volta ao aeroporto e o pouco que vi achei até simpático, a cidade estava limpa, não vi pedintes (que são comuns nos centros das cidades) só detestei a comida (mas isso é contornável, é uma questão de tempo descobrir para onde ir).

Mas mesmo assim não gostaria de morar lá, não que eu ache que isso vá acontecer, são mais de 200 por vaga, ninguém ficaria mais surpreso que eu mesmo se eu passasse.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A impaciência tem os seus direitos

Afinal onde tudo isso vai parar? (é uma retórica, não me refiro a nada em especial no momento).

Acho que a resposta ideal é outra pergunta: O que você está procurando?

Já é um grande passo se souber ao menos o que se está se procurando, pessoas altamente preparadas se perdem durante muito tempo por falta de um norte (em sentido geral, não me refiro a qualificações profissionais e sim a qualquer coisa que seja prejudicada por falta de objetivo).

Mas quando é que esse norte será alcançado? Eis a questão.

Estamos trilhando o caminho correto? Se não estamos porque ir em frente? E porque ele não chega logo? É o que realmente queremos ou apenas uma conveniência? Estamos sendo levados por uma maré?

E se estamos procurando algo que sabidamente não iremos gostar? Qual a surpresa? Apenas matar uma curiosidade mórbida? Se é que é possível chamar de curiosidade algo que já sabemos qual será o resultado? Fica sem sentido esbravejar depois.

Seguimos uma lógica que a própria razão desconhece. Acho que o que mais incomoda é a estagnação, melhor andar sem rumo do que passar a impressão de que estamos desorientados. Muito pior é aquele que mente para si mesmo tentando em vão passar a impressão de que sabe o que faz, mas não engana a ninguém, depois de um tempo a situação fica patente.

O título dessa postagem é uma referência ao filme “Lavoura Arcaica”, é uma obra peculiar porque suas cenas deixam em aberto de forma que cada espectador a interprete segundo sua lógica, ou seja, dificilmente pessoas que assistiram a esse filme têm as mesmas impressões dele. Por conta disso ficaria sem sentido a descrição da cena.

Transcrevo apenas a minha impressão: A frase foi dita em um contexto de indignação do personagem que manifestou indignação com o ambiente estático em que vivia, onde o conformismo e a calma com a vida eram incentivados. Ela foi a uma resposta a outra assertiva feita no filme: “A paciência é a mãe das virtudes”. (em tempo, Lavoura Arcaica é um dos filmes mais densos que já assisti, poucos que conheci gostaram do filme, tem uma atmosfera muito carregada).

Falta honestidade com nós mesmos, deveríamos ser mais resilientes.

Gostaria de ter sempre a sinceridade de quem sente fome.” - Carpinejar.

Na sexta parto para Manaus para fazer uma prova, não conheci uma única pessoa que não tenha me dito que a cidade tem um clima insuportável e que eu não aguentaria viver lá (caso aprovado, lógico). Bom... isso é o que veremos, ás vezes as melhores coisas vêm de onde menos se espera.

Abraços.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Uma breve história sobre o nada.

Meu amigo, como os anos passam!!!!

“... Passam-se os dias passam-se as semanas
Nada do que passou
volta de novo à cena
Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena
A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo”

Guillaume Apollinaire.

E como os dias, as pessoas também passam, alguns amigos ficam, outros apenas a lembrança. O que foi dito é irrevogável, mas muitas vezes o silêncio tem uma eloqüência ensurdecedora e marca muito mais do que uma resposta.

Minhas lembranças mais relevantes estão perfeitamente arquivadas na minha memória, mas nem as boas me trazem saudosismo nem das más guardo rancor. Com todas aprendi algo. Às vezes somos muito injustos com nós mesmos, incapazes de aceitar as imposições da vida, mas paradoxalmente por vezes tomamos atitudes muito mais sérias.

Lembro-me claramente quando Saulinho fez 30 anos, estávamos no Paraty, quando perguntei a ele sobre a suposta crise dos 30 ele me respondeu: “Não a sinto. O lance é que não me sinto com 30 anos, quando eu tinha 18 e me imaginava com 30 eu idealizava uma situação muito diferente, e hoje não me sinto muito distante de quando eu tinha 18, sinto que ainda tem muita coisa pela frente e eu não tenho pressa”.

A vida solitária constantemente me faz retornar aos fatos que marcaram a minha vida, lembrar experiências que talvez se repitam ou que nunca retornem a acontecer. Li um texto que dizia algo como: “Não se pode sentir saudades dos momentos que ainda não ocorreram, talvez eles aconteçam, talvez não.” O que é preciso é paciência.

Faço 28 hoje, e sempre sinto que o ano começa pra valer agora, e me dou 23 anos de idade fácil, fácil.

RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
( mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Como um gatilho sem disparar.

Por quanto tempo se paga por um erro? Por quanto um deslize emanará seus efeitos sobre a vida de uma pessoa? Suas seqüelas? Suas ameaças?

Qual a idéia que se tem ao pressionar ao maxímo um gatilho sem que ele dispare? O que Nando Reis queria dizer? Será que ele queria saber o quanto de pressão alguém pode suportar antes de explodir? Algo que se possa acontecer a qualquer momento por andar no seu limite? Ou seria uma mera ameaça, advinda, por exemplo, da simples imagem de uma arma apontada para uma cabeça?

Muitas interrogações sem respostas, apenas a dúvida. Para todo erro deveria haver uma sanção correspondente, esta deveria ter prazo determinado e levar em conta não só o erro propriamente dito, mas a pessoa que a cometeu. Deveria mandar primeiramente um aviso e só com a reincidência ser aplicada.

O que não é justo é que tal sanção apareça e desapareça seguindo apenas as regras da teoria caos, indo e vindo sem qualquer aviso ou sem formalidades que denunciem a sua chegada em breve.

E se ela não aparece por muito tempo e tornamos a cometer o deslize? E desta vez o deslize não gera castigo?

A ameaça fica desvinculada ao erro, ficaremos nos perguntando se ele não foi apenas o gatilho que a fez emergir, se ela há muito já estava lá apenas não se fezia conhecer.

Não é possível chamar de deslize um erro cometido de forma consciente e não-impulsiva. A razão do repetimento dele só faz sentido para quem o repete. O gatilho está lá, a sanção pode vir ou não, como pode vir sem o próprio gatilho, então como saber o que vai acontecer?

Interessante ver o julgamento ignorante, absolutamente inexperiente, infantil e incompetente de terceiros sobre nossos atos. É muito fácil racionalizar as vidas dos outros, nós mesmos podemos fazer uma análise lógica dos nossos problemas, mas as coisas não se resolvem sempre na base do 1+1=2.

Li uma vez uma frase que dizia algo do tipo: “Danço com o diabo, mas sou eu que escolho a música”, o problema é que as vezes a máquina quebra.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pena?

Durante as vacaciones, em Granada para ser mais específico, era feriado na cidade (não que isso fizesse muita diferença, na Espanha o pessoal não curte muito trabalhar, me parece que foram colonizados pelos Baianos), assim que chegamos uma parte do pessoal ficaram descansando e eu e Caio fomos a uma espécie de Hipermercado já que não havia padarias abertas.

Feitas as compras e não sendo possível comer lá mesmo fomos a um parque perto do apartamento, nos sentamos lá e com as mãos mesmo abrimos os pães e agregados e comemos sentados em um banco (bem roots mesmo, quase neanderthal).

Comentando sobre algo, que não me recordo agora o que era, comentei ter ficado com pena de alguém e disse que achava que pena era o pior sentimento que poderia sentir por outra, me sentiria medíocre se alguma pessoa sentisse de mim.

Caio me deu o exemplo de um amigo que dividia o apartamento com ele, já perto de finalizarem o convívio em virtude do fim do curso, ele começou a fazer sandices, criar problemas, causar pequenas brigas por motivos tolos e outras coisas do tipo. Por conta disso perguntaram a Caio se ele não ficava com raiva no que ele respondeu: “Não, sinto pena”, continuando nossa conversa ele me disse: “Velho, pena pra mim é olhar para uma pessoa e pensar: “Bicho, eu não queria ser você nunca.”, não se trata de uma situação ou de um momento específico, mas sim uma sensação permanente”.

Ele foi fundo, meu próprio conceito de pena ficou um pouco nebuloso pra mim, afinal o que é sentir pena?

“Pena” pura e simples me remete a lei de Talião, me passa a idéia de sanção ou mais apropriadamente castigo.

E o penalizado quem é? Um desgostoso? Um aflito? Um contrariado? Uma pessoa triste?

Até aquele dia tinha um conceito simples e egoísta de pena, seria uma sensação equivalente a uma inveja ao contrário.

Quem sente pena se sente superior, é automático, não adianta querer separar, acho que por isso iria odiar se sentissem pena de mim.

Após pensar sobre o assunto, se fosse conceituar pena diria que é uma espécie de sensação mista de solidariedade/piedade/compaixão que nos causa a dor alheia. Algo difícil de definir.

Mas o grande problema da pena é que ela raramente cria uma ligação mútua, não constitui uma unidade de sentimentos, o ônus não é dividido, não há comunhão de forças, em suma não serve pra nada.

Mais tarde, por coincidência, uma das meninas do grupo disse: “Eu não tenho pena de homem.”, no que foi acompanhada por outra que como se sentisse orgulho emendou: “eu também não.” A primeira falou do ex a noite toda, aliás, durante o dia também.

“Tsc, tsc, tsc, quanta maturidade.”, pensei comigo mesmo. Acho que para elas pena é algo relacionado a respeito ou insensibilidade ao sofrimento que podem vir a causar com suas atitudes, me pareceu haver muito de auto-afirmação naquelas frases.

Essa é uma pena que eu quero que sintam de mim, porque acho que eu a sinto também (já dizia Vladimir: “Tu é uma besta mesmo”).

Namastê.

Haiti - Caetano Veloso

Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo...
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E ao ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

sábado, 16 de janeiro de 2010

O tigre não muda suas listras.

A frase que intitula este post é de Jack Sawyer, um filósofo com o qual sinto muita afinidade.

Mas o cerne da questão é: As pessoas mudam? Costumava pensar que sim, mas nos últimos tempos aderi a corrente contrária.

Uma amiga, durante sua terapia, debatia sobre seus problemas familiares e reconhecia que boa parte deles advinha de seu temperamento difícil e que uma de suas metas na terapia era justamente trabalhar para mudar alguns aspectos de sua personalidade. No entanto a resposta que ouviu foi a seguinte: “Não adianta tentar mudar sua natureza, uma Pepsi por mais que tente nunca vai se tornar uma Coca-cola” (esta pérola de analogia, acreditem, foi dita por uma psiquiatra).

O tempo sempre trás a natureza das pessoas a tona, é uma disputa inglória e impossível de se vencer.

Conversando com um primo que mora em Barcelona e não via há anos, depois de muito papo constatamos que haviamos mudado muito pouco, e quando fui perguntado sobre outro primo, que morava no Canadá e retornou depois de dois anos, lhe disse que estava a mesma coisa assim como um amigo da mesma turma que mora aqui no RJ. Crescemos lógico mas as afinidades, divergências e marras continuavam as mesmas.

Antigamente achava que nas relações pessoais tínhamos que nos amoldar uns aos outros, cada lado cedendo um pouco para que houvesse uma relação equilibrada.

Em tudo na vida tem que haver equilíbrio, se somente um lado cede para satisfazer o outro, na verdade está se armando uma bomba-relógio, quem só cede nunca está feliz e quem sempre tem seus e vontades e mimos realizados nunca fica satisfeito.

A explosão sempre deixa marcas profundas, acho que o ideal é justamente que as pessoas se mostrem como são desde o início e dessa forma sejam aceitos ou não.

Claro que é impossível ser transparente o tempo todo, a vida em sociedade exige que sejamos políticos (por vezes cínicos também).

Bilu uma vez me perguntou: “Você prefere um amigo divertido ou um amigo autêntico?”, “autêntico” respondi.

Não consigo conceber que quem viva usando mascaras o tempo todo seja feliz, um dia elas caem, é inevitável, o tempo é implacável.

Ninguém se basta.

Certa feita estava a comentar com Tiago sobre como o comportamento de um amigo havia me irritado na noite anterior e finalizei da seguinte forma: “Da próxima vez irei sozinho, eu me basto!!!”.

No que ele rebateu: “Diogo, NINGUÉM se basta!!!”, dito isto deu uma sonora gargalhada. O gordo é mestre nessas tiradas, em tom amistoso ele foi sucinto, firme e objetivo, não havia mais o que discutir.

De fato ninguém se basta, “Eu me basto” é provavelmente uma das frases mais auto-afirmativas que existem, é dita pelos mais variados motivos: Tentar mostrar independência; Dar um ar blasé a uma situação que lhe incomoda; Como reação quando se é preterido, dentre muitas outras.

Uma mente em tabula rasa jamais diria isso, essa frase normalmente é acompanhada por um sentimento de frustração, resignação ou apenas para disfarçar a solidão.

Ninguém se basta.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A dúvida

Outro dia enquanto conversava com Aroldo sobre a dificuldade que estava tendo em lidar com determinada situação dada minha impossibilidade em interpretar o comportamento dos envolvidos.

Tracei todos os fins possíveis para a situação, alguns bons e outros ruins. Foi quando pedi a opinião dele, que instantaneamente me disse: “Não sei, mas pior do que a certeza absoluta de um resultado ruim é a dúvida”.

À noite em casa fiquei refletindo sobre aquilo, indubitavelmente ele estava correto, já bem dizia Shakespeare “Nossas dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.”

A dúvida nos faz perder o sono e a concentração, saímos rapidamente da euforia para a melancolia em virtude da espera de um evento futuro.

As vezes estamos tão pessimistas que quando o caso se resolve favoravelmente ficamos mais surpresos do que felizes e acabamos castrados de gozar plenamente da vitória. Por outras vezes ficamos tão entusiasmados que um resultado negativo nos deixa irremediavelmente melancólicos.

Mas nada se compara a dúvida, ela é matadora, a pior delas é a que não tem data para ser dirimida, esta arruína com a vida do homem, lhe tira a paz de espírito, faz os seus dias se arrastarem e o coloca em um estado de ansiedade constante que trazem a tona os questionamentos mais profundos e incoerentes possíveis.

Na vida temos que ser mais objetivos, a imaginação muitas vezes é perigosa e nos afasta da vida prática.

Sobre os sons do silêncio.

Após quase um mês de férias, retorno ao silêncio do meu apartamento no Rio de Janeiro. Depois de cinco meses morando aqui sinto algo diferente agora. Ficar só nunca foi um problema para mim, não tive dificuldade nenhuma no início, a adaptação foi quase que instantânea. Mas, acabo de sair uma viagem muito ativa e com muito contato pessoal.

Desde que voltei, a toda hora fico com a impressão de que esqueci de fazer algo, que esqueci de avisar algo a alguém, esta faltando alguma coisa no meu dia.

Não é solidão, se foi uma coisa que aprendi é que solidão é um estado de espírito, o lugar e as pessoas que estão com você pouco importam, não me sinto só no RJ, mas a solidão era uma companheira eventual em Aracaju.

Quem mora só passa a valorizar pequenas coisas, uma ligação apenas para pirraçar chamando para uma festa que obviamente eu não tenho como ir por morar em outra urbe, uma vez enviei um email com uma piada que para minha surpresa foi respondido com um lamento por ter sabido que eu havia passado uns poucos dias na cidade mas não tínhamos nos encontrado, um SMS, um scrap pedindo notícias, aquele telefonema tarde da noite quando o minuto é mais barato, dentre outras coisas.

Por essas e outras não me sinto só.

Recentemente eu disse a Caio: “Os chatos são sempre lembrados, podem não sentir saudades, mas nossa ausência é sentida.” (sim, sou um chato), no que ele concordou e complementou: “Nós existimos para preencher os espaços vazios”.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

5 meses de Rio de Janeiro

Lembro-me com exatidão do dia em que resolvi morar no RJ, acordei cedo para ir ao interior fazer uma audiência que ocorrei com 4 horas de atraso e onde a contragosto acabei fazendo um acordo.

Lembro-me claramente da volta para casa, do turbilhão de pensamentos que povoavam minha mente, alguns bem próximos outros mais distantes, mas todos com um alto grau de abstração, sequer conseguia me lembrar do nome da minha cliente de logo cedo, provavelmente nunca retornaria a ver-la novamente.

Enquanto isso, precisava conciliar meus devaneios com um mínimo de atenção que a direção em uma BR exige, somada ao cansaço de mais de uma centena de noites mal dormidas, frutos de uma vida absolutamente irregular e desregrada, sem horários, sem rotinas e sem saúde.

Para onde diabos estou indo? Ficava me perguntando (era um questionamento retórico, claro, me dirigia para casa). Meu grande problema naquele momento era olhar no espelho e pensar: O que vou fazer agora? De que forma vou ocupar minha cabeça? Estudar era absolutamente inviável, com a cabeça tão distante imersa em problemas das mais variadas naturezas, alguns absolutamente inesperados, frutos de equívocos e situações que nunca pensei que um dia pudessem acontecer.

Meu dia parecia se arrastar apenas a espera de um único momento: A academia. Era a minha redenção, por algumas horas eu tinha um foco, uma rotina, meu corpo se dedicava unicamente a seguir uma seqüência de atos, por um curto espaço de tempo as coisas pareciam ter algum sentido.

Andava mais anti-social do que nunca, cultivei hábitos que antes ojerizava, ia sozinho para as ultimas sessões de cinema durante a semana, as vezes comprava umas cervejas e ficava em casa tomando sozinho mesmo sem fazer nada em especial.

Neste dia a noite estava estático diante do computador, nada atraia a minha atenção, mantia minha presença virtual em segredo para os meus amigos, na minha cabeça esperava que como no clipe de “Do the evolution” tentáculos saíssem da tela entrassem em meus ouvidos e narinas e me transformassem definitivamente em um zumbi (talvez isso já houvesse acontecido e eu apenas não tinha percebido).

Inexplicavelmente naquele dia tornei visível a minha presença, nem sei com que intuito, não queria conversar com ninguém, minha ausência prolongada em meus círculos de amizades inevitavelmente provocaria o contato de meus amigos o que de fato aconteceu.

Mas, uma janela me chamou a atenção, parecia piscar mais forte e mais rápido que as outras. E ela tinha uma informação muito simples: “Diogo, a EMERJ abriu inscrições, porque você não faz a prova?” me disse Rivanda. No que automaticamente respondi: “Sim, vou me inscrever.” Na mesma hora fiz o cadastro virtual, no dia seguinte paguei a taxa e enviei a documentação necessária. Estava resoluto, iria para o Rio de Janeiro de qualquer jeito.

Só que as coisas não eram assim tão simples, morar no RJ antes de qualquer coisa significava sair da condição da auto-suficiência e regredir para a dependência total. Bem como voltar para um esquema de estudos ao qual nunca fui muito próximo, perder todas as mordomias e despreocupações que só a casa da mãe pode oferecer e trocar isso por todos os problemas que a solitária vida de um pequeno burguês solteiro pode proporcionar.

Acho que meu desnorteamento andava tão aparente que a noticia provocou basicamente duas reações:

1 – Pró RJ: “O Rio é a solução, lá você vai estabelecer uma rotina, você é um cara inteligente, só precisa de tempo e disciplina e em pouco tempo estará aprovado. Meu financiador (leia-se pai) seguiu essa linha, precisei de menos de uma hora de conversa.

2- Você só pode estar louco!!! (huahauahuah): "Do que diabos está fugindo? Acha que o RJ vai resolver seus problemas? Seus pensamentos irão junto com você, eles não vão se despedir no aeroporto" argumentou Raquel.

A segunda linha, exageros a parte, era a mais lógica, gerou muitos questionamentos, discussões, reflexões solitárias.

“Diogo, você esta financeiramente estável e em rota ascendente, tem dois empregos que pagam relativamente bem e exigem muito pouco, fora os extras que a advocacia proporciona, tem um carro bom, paga todas as suas contas, não deve explicações nem tem responsabilidades com ninguém, está acostumado a comer nos melhores restaurantes e freqüentar os melhores lugares, seus amigos estão todos ao seu alcance na hora em que você precisar e mesmo assim ainda quer abdicar disso tudo?” Questionou Saulinho.

Sim, quanto mais eu ganhava mais eu gastava, não conseguia juntar nada, não sentia que estava construindo algo e não via futuro naquilo no longo prazo. Estava cansado das festas, tive uma overdose de baladas, saia de casa como se fosse uma obrigação para fugir do ostracismo do lar. E ademais, meus bons amigos estão ao alcance de uma ligação e posso muito bem viver sem carro e não me incomodo em dar explicações sobre o que ando fazendo.

Mas havia algo mais profundo: “Diogo, seus momentos de sossego e alegria aqui são muito artificiais e efêmeros, como você vai lidar com isso tão longe de casa? Mal consegue dormir, vai acabar piorando.”

Sim, era um risco alto a correr, mas sabia quais eram as raízes do problema, e fui muito prático, nos dois meses que me restaram entre a decisão e a ida ao Rio tomei as mais drásticas e necessárias providencias. Fui muito objetivo com relação ao que precisava ser feito.

Minha primeira semana aqui foi caótica, mas em pouco tempo me adaptei, os motivos que me levaram a vir pra Ca estavam tão distantes que pareciam frutos da minha imaginação, às nove da noite já bocejava de sono, em pouco tempo estava feliz.

As vezes bate um saudosismo, volto agora das “férias” para o isolamento do meu apartamento, é a hora que mais estranho, mas não demoro a lembrar do motivo de estar aqui e caio na rotina de novo, mais satisfeito do que antes.