domingo, 23 de maio de 2010

Copo meio cheio.

O pessimismo quando sempre presente em nossos pensamentos se torna um entrave nas nossas vidas.

Li recentemente um texto que dizia que a pessoa que se caracteriza por uma negatividade, um antever de fracassos no que gostaria de alcançar, que rejeita antes de tentar, que desiste por temer uma derrota, é uma pessoa dominada pelo medo e pela covardia de viver. Para mascarar seu medo, costuma elaborar justificativas, com supostas razões, para si mesma e para os outros.

Está correto.

O pessimista gosta de se auto-denominar como realista.

É muito fácil frustrar-se e desestimular-se, qualquer indivíduo pode ser levado a desistir.

Mas o fato de estarmos exasperados não significa que temos que fazer com que a situação se deteriore ainda mais.

O supra sumo do otimismo William Godwin conjecturava que a sociedade humana tenderia a atingir um estado em que a razão viria a substituir todo o uso da força, a mente controlaria a matéria e a inteligência descobriria o segredo da imortalidade.

Ok, não vamos a tanto, mas no momento, afirmo que o copo está meio cheio... e de coca com gelo.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Ad inferos

Nada mais interessante de se observar que o fogo, sua amorfia é fascinante, não me refiro àquela flama constante e cônica de uma vela sem vento (ainda que aquela gota ígnea que se transforma em um filete de fumaça tenha seu it), e sim as labaredas de uma enorme fogueira ao ar livre, ou ainda, lembrando saudosamente de meus tempos de piromaníaco, do fogo sobre o azulejo cru embaixo do chuveiro alimentado apenas pelo álcool outrora tão acessível, este sim é a verdadeira manifestação física do caos, sua chamas levemente azuladas eram de uma beleza demoníaca, não seguiam traçado e se moviam com velocidade e fúria selvagens, praticamente sem produzir fumaça e quando se esgotava sumia quase que instantaneamente, sua força é incontestável. Talvez Nero não estivesse tão louco afinal, um incêndio em Roma deve ser algo interessante de se ver.

Antagonicamente existe a água, possivelmente o elemento mais apreciado pelos físicos, possui simetria e uma previsibilidade raras, uma pedra arremessada em um lago produzirá diversas ondas circulares e harmônicas entre si, pode se argumentar sobre a inconstância das marés, mas estas também seguem suas regras, são sempre esperadas não surpreendem, possuem sua força é claro, da mesma forma que podem produzir energia tem a capacidade de causar destruição (nunca a palavra ressaca foi tão apropriadamente utilizada para nomear um fenômeno), até as ondas seguem uma seqüência lógica.

Yin e Yang, se anulam, não se atraem, um é racional o outro caótico, um poderia ser a obra-prima de um arquiteto o outro trabalho de um engenheiro. Cada um tem seus atrativos, mas qual o mais interessante? Dizem que o homem teme aquilo que não compreende, não sei se é o caso.

O mar em fúria por vezes me parece mais digno de ser eternizado que um lago, a mesma tempestade que assusta também atiça nossos sentidos, nos deixa alertas! Que dizer então da fumaça negra de um grande incêndio? A prova mais visível da devastação, o prefácio de uma tragédia, esta causa repulsa.

Isso que me intriga, porque o óbvio não é tão sedutor?

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Ensaio sobre a insônia.

Nada mais eloqüente que o silêncio da alvorada. As horas passam devagar, pensamentos e fantasmas abrolham e submergem na mesma velocidade.

Nesta longa madrugada me sinto um cadáver acordado, absolutamente apático ao ambiente que me cerca, nem melancólico nem amável, uma insensibilidade anormal, no máximo uma leve preocupação com minhas condições físicas ao despertar, haja vista a infeliz necessidade de cumprir horários.

Coço a barba mal-feita e enquanto aguardo a aurora me dou conta que nem sei que horas são, mas isso não me incomoda, em verdade sinto uma paz incomum, uma despreocupação rara, uma tranqüilidade que andava sumida.

Realizo então que me encontro numa ocasião peculiar que me permite um flerte com a racionalidade em seu estado bucólico. No momento nada parece me chatear, tempos que pressagiam transformações respeitáveis parecem iminentes, mas me sinto incapaz de sentir sequer um mínimo de expectativa, curioso isso.

Aguardo tranquilamente.

A paz - Gilberto Gil.

A paz
Invadiu o meu coração
De repente, me encheu de paz
Como se o vento de um tufão
Arrancasse meus pés do chão
Onde eu já não me enterro mais

A paz
Fez o mar da revolução
Invadir meu destino; a paz
Como aquela grande explosão
Uma bomba sobre o Japão
Fez nascer o Japão da paz
...