quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

A impaciência tem os seus direitos

Afinal onde tudo isso vai parar? (é uma retórica, não me refiro a nada em especial no momento).

Acho que a resposta ideal é outra pergunta: O que você está procurando?

Já é um grande passo se souber ao menos o que se está se procurando, pessoas altamente preparadas se perdem durante muito tempo por falta de um norte (em sentido geral, não me refiro a qualificações profissionais e sim a qualquer coisa que seja prejudicada por falta de objetivo).

Mas quando é que esse norte será alcançado? Eis a questão.

Estamos trilhando o caminho correto? Se não estamos porque ir em frente? E porque ele não chega logo? É o que realmente queremos ou apenas uma conveniência? Estamos sendo levados por uma maré?

E se estamos procurando algo que sabidamente não iremos gostar? Qual a surpresa? Apenas matar uma curiosidade mórbida? Se é que é possível chamar de curiosidade algo que já sabemos qual será o resultado? Fica sem sentido esbravejar depois.

Seguimos uma lógica que a própria razão desconhece. Acho que o que mais incomoda é a estagnação, melhor andar sem rumo do que passar a impressão de que estamos desorientados. Muito pior é aquele que mente para si mesmo tentando em vão passar a impressão de que sabe o que faz, mas não engana a ninguém, depois de um tempo a situação fica patente.

O título dessa postagem é uma referência ao filme “Lavoura Arcaica”, é uma obra peculiar porque suas cenas deixam em aberto de forma que cada espectador a interprete segundo sua lógica, ou seja, dificilmente pessoas que assistiram a esse filme têm as mesmas impressões dele. Por conta disso ficaria sem sentido a descrição da cena.

Transcrevo apenas a minha impressão: A frase foi dita em um contexto de indignação do personagem que manifestou indignação com o ambiente estático em que vivia, onde o conformismo e a calma com a vida eram incentivados. Ela foi a uma resposta a outra assertiva feita no filme: “A paciência é a mãe das virtudes”. (em tempo, Lavoura Arcaica é um dos filmes mais densos que já assisti, poucos que conheci gostaram do filme, tem uma atmosfera muito carregada).

Falta honestidade com nós mesmos, deveríamos ser mais resilientes.

Gostaria de ter sempre a sinceridade de quem sente fome.” - Carpinejar.

Na sexta parto para Manaus para fazer uma prova, não conheci uma única pessoa que não tenha me dito que a cidade tem um clima insuportável e que eu não aguentaria viver lá (caso aprovado, lógico). Bom... isso é o que veremos, ás vezes as melhores coisas vêm de onde menos se espera.

Abraços.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Uma breve história sobre o nada.

Meu amigo, como os anos passam!!!!

“... Passam-se os dias passam-se as semanas
Nada do que passou
volta de novo à cena
Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena
A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo”

Guillaume Apollinaire.

E como os dias, as pessoas também passam, alguns amigos ficam, outros apenas a lembrança. O que foi dito é irrevogável, mas muitas vezes o silêncio tem uma eloqüência ensurdecedora e marca muito mais do que uma resposta.

Minhas lembranças mais relevantes estão perfeitamente arquivadas na minha memória, mas nem as boas me trazem saudosismo nem das más guardo rancor. Com todas aprendi algo. Às vezes somos muito injustos com nós mesmos, incapazes de aceitar as imposições da vida, mas paradoxalmente por vezes tomamos atitudes muito mais sérias.

Lembro-me claramente quando Saulinho fez 30 anos, estávamos no Paraty, quando perguntei a ele sobre a suposta crise dos 30 ele me respondeu: “Não a sinto. O lance é que não me sinto com 30 anos, quando eu tinha 18 e me imaginava com 30 eu idealizava uma situação muito diferente, e hoje não me sinto muito distante de quando eu tinha 18, sinto que ainda tem muita coisa pela frente e eu não tenho pressa”.

A vida solitária constantemente me faz retornar aos fatos que marcaram a minha vida, lembrar experiências que talvez se repitam ou que nunca retornem a acontecer. Li um texto que dizia algo como: “Não se pode sentir saudades dos momentos que ainda não ocorreram, talvez eles aconteçam, talvez não.” O que é preciso é paciência.

Faço 28 hoje, e sempre sinto que o ano começa pra valer agora, e me dou 23 anos de idade fácil, fácil.

RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
( mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Como um gatilho sem disparar.

Por quanto tempo se paga por um erro? Por quanto um deslize emanará seus efeitos sobre a vida de uma pessoa? Suas seqüelas? Suas ameaças?

Qual a idéia que se tem ao pressionar ao maxímo um gatilho sem que ele dispare? O que Nando Reis queria dizer? Será que ele queria saber o quanto de pressão alguém pode suportar antes de explodir? Algo que se possa acontecer a qualquer momento por andar no seu limite? Ou seria uma mera ameaça, advinda, por exemplo, da simples imagem de uma arma apontada para uma cabeça?

Muitas interrogações sem respostas, apenas a dúvida. Para todo erro deveria haver uma sanção correspondente, esta deveria ter prazo determinado e levar em conta não só o erro propriamente dito, mas a pessoa que a cometeu. Deveria mandar primeiramente um aviso e só com a reincidência ser aplicada.

O que não é justo é que tal sanção apareça e desapareça seguindo apenas as regras da teoria caos, indo e vindo sem qualquer aviso ou sem formalidades que denunciem a sua chegada em breve.

E se ela não aparece por muito tempo e tornamos a cometer o deslize? E desta vez o deslize não gera castigo?

A ameaça fica desvinculada ao erro, ficaremos nos perguntando se ele não foi apenas o gatilho que a fez emergir, se ela há muito já estava lá apenas não se fezia conhecer.

Não é possível chamar de deslize um erro cometido de forma consciente e não-impulsiva. A razão do repetimento dele só faz sentido para quem o repete. O gatilho está lá, a sanção pode vir ou não, como pode vir sem o próprio gatilho, então como saber o que vai acontecer?

Interessante ver o julgamento ignorante, absolutamente inexperiente, infantil e incompetente de terceiros sobre nossos atos. É muito fácil racionalizar as vidas dos outros, nós mesmos podemos fazer uma análise lógica dos nossos problemas, mas as coisas não se resolvem sempre na base do 1+1=2.

Li uma vez uma frase que dizia algo do tipo: “Danço com o diabo, mas sou eu que escolho a música”, o problema é que as vezes a máquina quebra.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Pena?

Durante as vacaciones, em Granada para ser mais específico, era feriado na cidade (não que isso fizesse muita diferença, na Espanha o pessoal não curte muito trabalhar, me parece que foram colonizados pelos Baianos), assim que chegamos uma parte do pessoal ficaram descansando e eu e Caio fomos a uma espécie de Hipermercado já que não havia padarias abertas.

Feitas as compras e não sendo possível comer lá mesmo fomos a um parque perto do apartamento, nos sentamos lá e com as mãos mesmo abrimos os pães e agregados e comemos sentados em um banco (bem roots mesmo, quase neanderthal).

Comentando sobre algo, que não me recordo agora o que era, comentei ter ficado com pena de alguém e disse que achava que pena era o pior sentimento que poderia sentir por outra, me sentiria medíocre se alguma pessoa sentisse de mim.

Caio me deu o exemplo de um amigo que dividia o apartamento com ele, já perto de finalizarem o convívio em virtude do fim do curso, ele começou a fazer sandices, criar problemas, causar pequenas brigas por motivos tolos e outras coisas do tipo. Por conta disso perguntaram a Caio se ele não ficava com raiva no que ele respondeu: “Não, sinto pena”, continuando nossa conversa ele me disse: “Velho, pena pra mim é olhar para uma pessoa e pensar: “Bicho, eu não queria ser você nunca.”, não se trata de uma situação ou de um momento específico, mas sim uma sensação permanente”.

Ele foi fundo, meu próprio conceito de pena ficou um pouco nebuloso pra mim, afinal o que é sentir pena?

“Pena” pura e simples me remete a lei de Talião, me passa a idéia de sanção ou mais apropriadamente castigo.

E o penalizado quem é? Um desgostoso? Um aflito? Um contrariado? Uma pessoa triste?

Até aquele dia tinha um conceito simples e egoísta de pena, seria uma sensação equivalente a uma inveja ao contrário.

Quem sente pena se sente superior, é automático, não adianta querer separar, acho que por isso iria odiar se sentissem pena de mim.

Após pensar sobre o assunto, se fosse conceituar pena diria que é uma espécie de sensação mista de solidariedade/piedade/compaixão que nos causa a dor alheia. Algo difícil de definir.

Mas o grande problema da pena é que ela raramente cria uma ligação mútua, não constitui uma unidade de sentimentos, o ônus não é dividido, não há comunhão de forças, em suma não serve pra nada.

Mais tarde, por coincidência, uma das meninas do grupo disse: “Eu não tenho pena de homem.”, no que foi acompanhada por outra que como se sentisse orgulho emendou: “eu também não.” A primeira falou do ex a noite toda, aliás, durante o dia também.

“Tsc, tsc, tsc, quanta maturidade.”, pensei comigo mesmo. Acho que para elas pena é algo relacionado a respeito ou insensibilidade ao sofrimento que podem vir a causar com suas atitudes, me pareceu haver muito de auto-afirmação naquelas frases.

Essa é uma pena que eu quero que sintam de mim, porque acho que eu a sinto também (já dizia Vladimir: “Tu é uma besta mesmo”).

Namastê.

Haiti - Caetano Veloso

Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada:
Nem o traço do sobrado
Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém, ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo...
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon
E ao ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti, reze pelo
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

sábado, 16 de janeiro de 2010

O tigre não muda suas listras.

A frase que intitula este post é de Jack Sawyer, um filósofo com o qual sinto muita afinidade.

Mas o cerne da questão é: As pessoas mudam? Costumava pensar que sim, mas nos últimos tempos aderi a corrente contrária.

Uma amiga, durante sua terapia, debatia sobre seus problemas familiares e reconhecia que boa parte deles advinha de seu temperamento difícil e que uma de suas metas na terapia era justamente trabalhar para mudar alguns aspectos de sua personalidade. No entanto a resposta que ouviu foi a seguinte: “Não adianta tentar mudar sua natureza, uma Pepsi por mais que tente nunca vai se tornar uma Coca-cola” (esta pérola de analogia, acreditem, foi dita por uma psiquiatra).

O tempo sempre trás a natureza das pessoas a tona, é uma disputa inglória e impossível de se vencer.

Conversando com um primo que mora em Barcelona e não via há anos, depois de muito papo constatamos que haviamos mudado muito pouco, e quando fui perguntado sobre outro primo, que morava no Canadá e retornou depois de dois anos, lhe disse que estava a mesma coisa assim como um amigo da mesma turma que mora aqui no RJ. Crescemos lógico mas as afinidades, divergências e marras continuavam as mesmas.

Antigamente achava que nas relações pessoais tínhamos que nos amoldar uns aos outros, cada lado cedendo um pouco para que houvesse uma relação equilibrada.

Em tudo na vida tem que haver equilíbrio, se somente um lado cede para satisfazer o outro, na verdade está se armando uma bomba-relógio, quem só cede nunca está feliz e quem sempre tem seus e vontades e mimos realizados nunca fica satisfeito.

A explosão sempre deixa marcas profundas, acho que o ideal é justamente que as pessoas se mostrem como são desde o início e dessa forma sejam aceitos ou não.

Claro que é impossível ser transparente o tempo todo, a vida em sociedade exige que sejamos políticos (por vezes cínicos também).

Bilu uma vez me perguntou: “Você prefere um amigo divertido ou um amigo autêntico?”, “autêntico” respondi.

Não consigo conceber que quem viva usando mascaras o tempo todo seja feliz, um dia elas caem, é inevitável, o tempo é implacável.

Ninguém se basta.

Certa feita estava a comentar com Tiago sobre como o comportamento de um amigo havia me irritado na noite anterior e finalizei da seguinte forma: “Da próxima vez irei sozinho, eu me basto!!!”.

No que ele rebateu: “Diogo, NINGUÉM se basta!!!”, dito isto deu uma sonora gargalhada. O gordo é mestre nessas tiradas, em tom amistoso ele foi sucinto, firme e objetivo, não havia mais o que discutir.

De fato ninguém se basta, “Eu me basto” é provavelmente uma das frases mais auto-afirmativas que existem, é dita pelos mais variados motivos: Tentar mostrar independência; Dar um ar blasé a uma situação que lhe incomoda; Como reação quando se é preterido, dentre muitas outras.

Uma mente em tabula rasa jamais diria isso, essa frase normalmente é acompanhada por um sentimento de frustração, resignação ou apenas para disfarçar a solidão.

Ninguém se basta.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

A dúvida

Outro dia enquanto conversava com Aroldo sobre a dificuldade que estava tendo em lidar com determinada situação dada minha impossibilidade em interpretar o comportamento dos envolvidos.

Tracei todos os fins possíveis para a situação, alguns bons e outros ruins. Foi quando pedi a opinião dele, que instantaneamente me disse: “Não sei, mas pior do que a certeza absoluta de um resultado ruim é a dúvida”.

À noite em casa fiquei refletindo sobre aquilo, indubitavelmente ele estava correto, já bem dizia Shakespeare “Nossas dúvidas são traiçoeiras e nos fazem perder o bem que poderíamos conquistar, se não fosse o medo de tentar.”

A dúvida nos faz perder o sono e a concentração, saímos rapidamente da euforia para a melancolia em virtude da espera de um evento futuro.

As vezes estamos tão pessimistas que quando o caso se resolve favoravelmente ficamos mais surpresos do que felizes e acabamos castrados de gozar plenamente da vitória. Por outras vezes ficamos tão entusiasmados que um resultado negativo nos deixa irremediavelmente melancólicos.

Mas nada se compara a dúvida, ela é matadora, a pior delas é a que não tem data para ser dirimida, esta arruína com a vida do homem, lhe tira a paz de espírito, faz os seus dias se arrastarem e o coloca em um estado de ansiedade constante que trazem a tona os questionamentos mais profundos e incoerentes possíveis.

Na vida temos que ser mais objetivos, a imaginação muitas vezes é perigosa e nos afasta da vida prática.

Sobre os sons do silêncio.

Após quase um mês de férias, retorno ao silêncio do meu apartamento no Rio de Janeiro. Depois de cinco meses morando aqui sinto algo diferente agora. Ficar só nunca foi um problema para mim, não tive dificuldade nenhuma no início, a adaptação foi quase que instantânea. Mas, acabo de sair uma viagem muito ativa e com muito contato pessoal.

Desde que voltei, a toda hora fico com a impressão de que esqueci de fazer algo, que esqueci de avisar algo a alguém, esta faltando alguma coisa no meu dia.

Não é solidão, se foi uma coisa que aprendi é que solidão é um estado de espírito, o lugar e as pessoas que estão com você pouco importam, não me sinto só no RJ, mas a solidão era uma companheira eventual em Aracaju.

Quem mora só passa a valorizar pequenas coisas, uma ligação apenas para pirraçar chamando para uma festa que obviamente eu não tenho como ir por morar em outra urbe, uma vez enviei um email com uma piada que para minha surpresa foi respondido com um lamento por ter sabido que eu havia passado uns poucos dias na cidade mas não tínhamos nos encontrado, um SMS, um scrap pedindo notícias, aquele telefonema tarde da noite quando o minuto é mais barato, dentre outras coisas.

Por essas e outras não me sinto só.

Recentemente eu disse a Caio: “Os chatos são sempre lembrados, podem não sentir saudades, mas nossa ausência é sentida.” (sim, sou um chato), no que ele concordou e complementou: “Nós existimos para preencher os espaços vazios”.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

5 meses de Rio de Janeiro

Lembro-me com exatidão do dia em que resolvi morar no RJ, acordei cedo para ir ao interior fazer uma audiência que ocorrei com 4 horas de atraso e onde a contragosto acabei fazendo um acordo.

Lembro-me claramente da volta para casa, do turbilhão de pensamentos que povoavam minha mente, alguns bem próximos outros mais distantes, mas todos com um alto grau de abstração, sequer conseguia me lembrar do nome da minha cliente de logo cedo, provavelmente nunca retornaria a ver-la novamente.

Enquanto isso, precisava conciliar meus devaneios com um mínimo de atenção que a direção em uma BR exige, somada ao cansaço de mais de uma centena de noites mal dormidas, frutos de uma vida absolutamente irregular e desregrada, sem horários, sem rotinas e sem saúde.

Para onde diabos estou indo? Ficava me perguntando (era um questionamento retórico, claro, me dirigia para casa). Meu grande problema naquele momento era olhar no espelho e pensar: O que vou fazer agora? De que forma vou ocupar minha cabeça? Estudar era absolutamente inviável, com a cabeça tão distante imersa em problemas das mais variadas naturezas, alguns absolutamente inesperados, frutos de equívocos e situações que nunca pensei que um dia pudessem acontecer.

Meu dia parecia se arrastar apenas a espera de um único momento: A academia. Era a minha redenção, por algumas horas eu tinha um foco, uma rotina, meu corpo se dedicava unicamente a seguir uma seqüência de atos, por um curto espaço de tempo as coisas pareciam ter algum sentido.

Andava mais anti-social do que nunca, cultivei hábitos que antes ojerizava, ia sozinho para as ultimas sessões de cinema durante a semana, as vezes comprava umas cervejas e ficava em casa tomando sozinho mesmo sem fazer nada em especial.

Neste dia a noite estava estático diante do computador, nada atraia a minha atenção, mantia minha presença virtual em segredo para os meus amigos, na minha cabeça esperava que como no clipe de “Do the evolution” tentáculos saíssem da tela entrassem em meus ouvidos e narinas e me transformassem definitivamente em um zumbi (talvez isso já houvesse acontecido e eu apenas não tinha percebido).

Inexplicavelmente naquele dia tornei visível a minha presença, nem sei com que intuito, não queria conversar com ninguém, minha ausência prolongada em meus círculos de amizades inevitavelmente provocaria o contato de meus amigos o que de fato aconteceu.

Mas, uma janela me chamou a atenção, parecia piscar mais forte e mais rápido que as outras. E ela tinha uma informação muito simples: “Diogo, a EMERJ abriu inscrições, porque você não faz a prova?” me disse Rivanda. No que automaticamente respondi: “Sim, vou me inscrever.” Na mesma hora fiz o cadastro virtual, no dia seguinte paguei a taxa e enviei a documentação necessária. Estava resoluto, iria para o Rio de Janeiro de qualquer jeito.

Só que as coisas não eram assim tão simples, morar no RJ antes de qualquer coisa significava sair da condição da auto-suficiência e regredir para a dependência total. Bem como voltar para um esquema de estudos ao qual nunca fui muito próximo, perder todas as mordomias e despreocupações que só a casa da mãe pode oferecer e trocar isso por todos os problemas que a solitária vida de um pequeno burguês solteiro pode proporcionar.

Acho que meu desnorteamento andava tão aparente que a noticia provocou basicamente duas reações:

1 – Pró RJ: “O Rio é a solução, lá você vai estabelecer uma rotina, você é um cara inteligente, só precisa de tempo e disciplina e em pouco tempo estará aprovado. Meu financiador (leia-se pai) seguiu essa linha, precisei de menos de uma hora de conversa.

2- Você só pode estar louco!!! (huahauahuah): "Do que diabos está fugindo? Acha que o RJ vai resolver seus problemas? Seus pensamentos irão junto com você, eles não vão se despedir no aeroporto" argumentou Raquel.

A segunda linha, exageros a parte, era a mais lógica, gerou muitos questionamentos, discussões, reflexões solitárias.

“Diogo, você esta financeiramente estável e em rota ascendente, tem dois empregos que pagam relativamente bem e exigem muito pouco, fora os extras que a advocacia proporciona, tem um carro bom, paga todas as suas contas, não deve explicações nem tem responsabilidades com ninguém, está acostumado a comer nos melhores restaurantes e freqüentar os melhores lugares, seus amigos estão todos ao seu alcance na hora em que você precisar e mesmo assim ainda quer abdicar disso tudo?” Questionou Saulinho.

Sim, quanto mais eu ganhava mais eu gastava, não conseguia juntar nada, não sentia que estava construindo algo e não via futuro naquilo no longo prazo. Estava cansado das festas, tive uma overdose de baladas, saia de casa como se fosse uma obrigação para fugir do ostracismo do lar. E ademais, meus bons amigos estão ao alcance de uma ligação e posso muito bem viver sem carro e não me incomodo em dar explicações sobre o que ando fazendo.

Mas havia algo mais profundo: “Diogo, seus momentos de sossego e alegria aqui são muito artificiais e efêmeros, como você vai lidar com isso tão longe de casa? Mal consegue dormir, vai acabar piorando.”

Sim, era um risco alto a correr, mas sabia quais eram as raízes do problema, e fui muito prático, nos dois meses que me restaram entre a decisão e a ida ao Rio tomei as mais drásticas e necessárias providencias. Fui muito objetivo com relação ao que precisava ser feito.

Minha primeira semana aqui foi caótica, mas em pouco tempo me adaptei, os motivos que me levaram a vir pra Ca estavam tão distantes que pareciam frutos da minha imaginação, às nove da noite já bocejava de sono, em pouco tempo estava feliz.

As vezes bate um saudosismo, volto agora das “férias” para o isolamento do meu apartamento, é a hora que mais estranho, mas não demoro a lembrar do motivo de estar aqui e caio na rotina de novo, mais satisfeito do que antes.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Sobre mim mesmo

Veio-me a cabeça que talvez manter um blog fosse uma boa idéia, algo de fundo terapêutico, um tipo de reflexão comigo mesmo, um diálogo de uma pessoa só.

Sou o cara que fala a coisa errada na hora mais errada ainda;

Não faço força pra agradar ninguém;

Meu excesso de sinceridade nunca me trouxe benefícios, muito pelo contrário aprendi que quem mente moderadamente tem uma vida mais feliz e tranqüila, ultimamente aderi à corrente do “ser o mais sincero até onde for possível”;

Meu laconismo, minhas poucas expressões corporais e meio jeito rude normalmente em primeira instância tendem a afastar as pessoas de mim, mas podem acreditar eu não mordo;

Não percam seu tempo tentando me entender, acreditem vocês não vão conseguir.