terça-feira, 11 de maio de 2010

Ad inferos

Nada mais interessante de se observar que o fogo, sua amorfia é fascinante, não me refiro àquela flama constante e cônica de uma vela sem vento (ainda que aquela gota ígnea que se transforma em um filete de fumaça tenha seu it), e sim as labaredas de uma enorme fogueira ao ar livre, ou ainda, lembrando saudosamente de meus tempos de piromaníaco, do fogo sobre o azulejo cru embaixo do chuveiro alimentado apenas pelo álcool outrora tão acessível, este sim é a verdadeira manifestação física do caos, sua chamas levemente azuladas eram de uma beleza demoníaca, não seguiam traçado e se moviam com velocidade e fúria selvagens, praticamente sem produzir fumaça e quando se esgotava sumia quase que instantaneamente, sua força é incontestável. Talvez Nero não estivesse tão louco afinal, um incêndio em Roma deve ser algo interessante de se ver.

Antagonicamente existe a água, possivelmente o elemento mais apreciado pelos físicos, possui simetria e uma previsibilidade raras, uma pedra arremessada em um lago produzirá diversas ondas circulares e harmônicas entre si, pode se argumentar sobre a inconstância das marés, mas estas também seguem suas regras, são sempre esperadas não surpreendem, possuem sua força é claro, da mesma forma que podem produzir energia tem a capacidade de causar destruição (nunca a palavra ressaca foi tão apropriadamente utilizada para nomear um fenômeno), até as ondas seguem uma seqüência lógica.

Yin e Yang, se anulam, não se atraem, um é racional o outro caótico, um poderia ser a obra-prima de um arquiteto o outro trabalho de um engenheiro. Cada um tem seus atrativos, mas qual o mais interessante? Dizem que o homem teme aquilo que não compreende, não sei se é o caso.

O mar em fúria por vezes me parece mais digno de ser eternizado que um lago, a mesma tempestade que assusta também atiça nossos sentidos, nos deixa alertas! Que dizer então da fumaça negra de um grande incêndio? A prova mais visível da devastação, o prefácio de uma tragédia, esta causa repulsa.

Isso que me intriga, porque o óbvio não é tão sedutor?

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