quinta-feira, 4 de março de 2010

Um dia a gente chega,

no outro vai embora. (Renato Teixeira).

O quanto pode extrair de um olhar? O que se pode deduzir de um par de olhos perdidos? O mesmo olhar em indivíduos diferentes possui o mesmo significado?

Lembro-me com clareza, mas sem saudosismo, do tempo em que a insônia me fazia enfrentar o nascer do sol. Ao raiar das primeiras horas da manhã ia para a beira da praia e deixava a água fria do mar molhar meus pés até a altura do calcanhar e me deixava divagar por longos minutos apenas apreciando a linha do horizonte.

Apreciar não é o termo mais apropriado, na verdade se em um destes momentos ocorresse um eclipse bem na minha frente possivelmente me passaria despercebido. A cabeça tão cheia, tão focada em varias coisas simultaneamente, pensamentos profundos, porém efêmeros, indo e vindo em uma velocidade tal que seria mais adequado dizer que não pensava em nada.

Se começasse a cair uma leve garoa então, entrava em nirvana...

Eis que essa ultima semana me peguei observando o olhar de meu progenitor. Absolutamente perdido, fixo em um quadro na parede, enquanto eu me perguntava se faria alguma diferença se eu retirasse o quadro. Será que ele continuaria a encarar a parede nua? Certamente que sim, já seria deverás recompensador se depois ele lembrasse que estive ali.

Questionava-me sobre o que se passava na cabeça dele, enquanto lembrava-me de mim mesmo. Perguntar seria uma absoluta perda de tempo, ainda que eu conseguisse me fazer entender (o que seria absolutamente improvável) dificilmente ele conseguiria se exprimir em palavras.

Seria possível não estar pensando em absolutamente nada? Teria se perdido em uma linha de raciocínio e sua mente ficado presa a ela? Não tenho como saber.

Lembro que já ouvi que ainda não inventaram um meio de viver muito que não fosse envelhecendo, rapidamente me ocorre que o tempo é mesmo imune as nossas vontades.

Se a vida com uma mão pode nos entregar prazeres e sucesso com a outra nos traz conseqüências e seus ônus, se por um lado nos trás felicidade por outro nos induz ao esforço. E junto com os anos que passam, vão-se também os nossos neurônios.

Inevitável não sentir certa resignação, a mesma que sinto quando vejo um animal atropelado na beira da estrada.

O olhar era o mesmo, mas o que nos separa além dos anos? Meu tempo também vai chegar.

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