domingo, 1 de agosto de 2010

Sem plano B

Ou ainda, embaixo da aparente estupidez existe a verdadeira estupidez.

Rememorava uma noite dessas de uma cena do filme “A lista de Schindler”, o serviçal do comandante responsável pelo campo de Auschwitz o comunica que não conseguiu retirar uma mancha de sua banheira, no que este, momentaneamente convencido por Schindler de que ser magnânimo era um sinal de superioridade, ao ser liberado o ajudante segue de volta aos alojamentos quando subitamente percebe que o militar havia mudado de idéia.

Subitamente, ao perceber que o primeiro tiro havia sido disparado ele estanca.

Fico imaginando o que ele pensou naquela hora...

Após alguns instantes ele recomeça a andar, nem mais rápido nem mais devagar.

Deve ter respirado fundo...

Talvez ele tenha pensado que seria melhor mesmo receber aquela bala e acabar com todo o sofrimento, o coração dele devia estar a mil.

Talvez ele apenas quisesse mostrar que tinha orgulho, que preferia morrer a ter que se sujeitar a sair correndo.

Talvez ele tenha apenas entregue ao acaso o resultado, pensado algo como “Foda-se, correr só vai protelar o inevitável”.

Acho que foram mais dois tiros errados antes do fatal, não me lembro ao certo, já faz muito tempo que assisti ao filme.

Putz, que situação...

Não recordo porque me lembrei dessa cena, tinha tomado uma garrafa de vinho (sim, comprei o saca-rolha) e estava lendo um livro que contava basicamente pequenas crônicas ou contos geralmente sobre ditaduras (estava me sentindo muito erudito nesse dia, rsrs), como o autor tem um viés de esquerda ele romanceava as estórias.

Provavelmente li alguma coisa que inconscientemente liguei ao filme.

Às vezes o orgulho é a única coisa que nos resta, somos sustentados unicamente por ele, não deixa nossa dignidade escorrer pelo ralo, é o elo que mantém o trinômio honra/hombridade (lato sensu)/humanidade unido.

Quem sempre se curva, com o tempo vai chegar a um ponto em que não mais conseguirá recompor sua postura.

Um amigo que residiu tempo fora do Brasil certa vez passou por um baque financeiro muito forte, e por conta disso teve que se submeter às situações mais insólitas imagináveis, como levar para casa papel higiênico de banheiros do comércio, entrar em albergues e se misturar aos hospedes para poder tomar o café-da-manhã, as ameaças de despejo viraram rotina, dentre outras coisas.

Um dia, na hora do almoço, ele entrou na fila do programa do governo que fornece refeições aos sem-tetos.

Quando já estava perto de chegar a sua vez, ele entrou em crise existencial e saiu da fila.

Foi para casa e colocou a melhor roupa que tinha e seguiu para o melhor restaurante que havia na sua vizinhança.

Comeu e bebeu do que havia de melhor.

Levantou-se e saiu sem pagar as contas.

Ok, pode não ter sido algo muito aconselhável, mas não consegui conter um sorriso de satisfação quando ouvi o relato.

Nada como um pouco de orgulho para nos manter vivos.

Esta característica eu tenho até demais, e embora ela tenha me causado mais problemas do que trazido benefícios, mas nesses dias tão maçantes aqui no Rio e sem um plano B, é que ele tem me sustentado.

Minha mãe me ligou hoje, em setembro vou com ela e meu padrasto passar 10 dias no Peru.

Bussunda tinha razão, mãe é mãe.

Certa vez estava discutindo em um fórum, quando um dos debatedores parafraseando alguma frase famosa me disse: “Diogo, ele pode parecer um idiota, agir como um idiota e falar como um idiota, mas meu amigo não se deixe enganar: ele é um idiota, só não enxerga quem não quer.”

O problema é que muita gente não quer enxergar o óbvio.

Sempre me guiei tendo como princípio fundamental que se eu agisse sempre seguindo os ditames éticos da vida em sociedade que os bons resultados viriam naturalmente com o passar do tempo.

Algo na linha “o mundo lhe devolve o que você emana para ele”.

Infelizmente isso não funciona assim, a concorrência é desleal e normalmente se dá muito bem.

Por que as pessoas gostam tanto de cavar a própria cova quando a oportunidade está ao lado? E elas certamente percebem isso...

A mente humana continua indecifrável para mim.

Ando me sentindo meio imprestável por esses dias, preciso de idéias para desenvolver um projeto, mas está difícil, estou tendo um bloqueio criativo.

“... Por que todos temos algo a dizer aos outros, alguma coisa, alguma palavra que merece ser celebrada ou perdoada pelos demais.” - Eduardo Galeano.

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