domingo, 24 de janeiro de 2010

Uma breve história sobre o nada.

Meu amigo, como os anos passam!!!!

“... Passam-se os dias passam-se as semanas
Nada do que passou
volta de novo à cena
Sob a ponte Mirabeau desliza o Sena
A noite vem passo a passo
Os dias se vão eu não passo”

Guillaume Apollinaire.

E como os dias, as pessoas também passam, alguns amigos ficam, outros apenas a lembrança. O que foi dito é irrevogável, mas muitas vezes o silêncio tem uma eloqüência ensurdecedora e marca muito mais do que uma resposta.

Minhas lembranças mais relevantes estão perfeitamente arquivadas na minha memória, mas nem as boas me trazem saudosismo nem das más guardo rancor. Com todas aprendi algo. Às vezes somos muito injustos com nós mesmos, incapazes de aceitar as imposições da vida, mas paradoxalmente por vezes tomamos atitudes muito mais sérias.

Lembro-me claramente quando Saulinho fez 30 anos, estávamos no Paraty, quando perguntei a ele sobre a suposta crise dos 30 ele me respondeu: “Não a sinto. O lance é que não me sinto com 30 anos, quando eu tinha 18 e me imaginava com 30 eu idealizava uma situação muito diferente, e hoje não me sinto muito distante de quando eu tinha 18, sinto que ainda tem muita coisa pela frente e eu não tenho pressa”.

A vida solitária constantemente me faz retornar aos fatos que marcaram a minha vida, lembrar experiências que talvez se repitam ou que nunca retornem a acontecer. Li um texto que dizia algo como: “Não se pode sentir saudades dos momentos que ainda não ocorreram, talvez eles aconteçam, talvez não.” O que é preciso é paciência.

Faço 28 hoje, e sempre sinto que o ano começa pra valer agora, e me dou 23 anos de idade fácil, fácil.

RECEITA DE ANO NOVO - Carlos Drummond de Andrade


Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor do arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação com todo o tempo já vivido
( mal vivido talvez ou sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser;
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo, espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?)
Não precisa
fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto de esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um Ano Novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.

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